Trem Fantasma

Dois possíveis factóides concatenados.
Os dois mandatos de Lula significaram uma reversão da ladeira abaixo que vínhamos percorrendo desde os dois últimos governos militares. A declividade aumentou a partir da democratização, foi incrementado pela constituição de 88, recebeu novo impulso de queda na compra da emenda da reeleição, na dilapidação do patrimônio nacional e a mim ao menos parecia não haver mais futuro viável para o Brasil. Lula, um hábil negociador, entendeu perfeitamente o jogo geopolítico, assumiu que havia brigas que não poderiam ser enfrentadas sem comprometer o objetivo principal, transigiu, negaceou, compôs e deu novo rumo ao país. Goste-se ou não de sua figura, não há como contestar esse fato.
O resultado geopolítico alcançado foi incluir o Brasil no eixo do interesse mundial. Sim, porque há um governo supranacional, detentor do capital, que decide inclusive quem pode assumir um governo e quem não pode. Isso e acordo com seus interesses. Quando um governante representa ameaça, é sabotado, crises são geradas, revoltas, revoluções, golpes de estado ou pura e simplesmente sua morte. Assim funciona o mundo e Lula sabe disso.
O Brasil passou a ser visto como promissor, com o beneplácito desse "sistema".
Dilma deu uma guinada, pouco hábil politicamente, mais aguerrida do que Lula.
Dilma passou a ser vista como uma ameaça. Rompeu alinhamentos tácitos, mostrou-se disposta a contrariar os interesses que nem Lula havia tido a audácia.Por 3 anos o "sistema" a tolerou, deu-lhe a chance de compor. Quando Dilma decidiu agravar o incidente da espionagem americana, a luz amarela avermelhou-se. Ela não percebeu que a independência do Brasil é relativa, pensou que era verdadeira. Aí sua inabilidade.
O que tudo isso tem a ver? Pois é, nada e tudo.
A privatização das ferrovias há duas décadas, com suas aquisições financiadas a estrangeiros pelo BNDES atingiu dois propósitos: garantir um mercado de caminhões e de saturação de rodovias pelo desmantelamento da malha ferroviária ainda existente, embora precária, e reduzir a capacidade logística brasileira de escoamento de safras, reduzindo sua competitividade.
Não há mais ferrovias no Brasil, essa é a realidade. Tirando alguns trechos da Santos-Jundiaí e a Curitiba-Paranaguá, o que resta? A que assegura o transporte de minério da Vale para exportação e alguns trecho do sonho de Olacyr de Moraes, sabotada pelo próprio governo nos tempos de FHC.
Recentemente a antiga NOB, que ligava a fronteira oeste - Corumbá - ao litoral foi desativada totalmente. Faz parte do plano.
Agora vem o governo com esses fatos novos de concessão de ferrovias.
Minha opinião pessoal é que os investimentos divulgados, tanto o chinês como do pacote de concessões são factóides. No máximo da boa-vontade, são números de intenção, sem nenhuma base factual. Sem boa-vontade, são números mentirosos, midiáticos.
A tal ferrovia chinesa pode ser até mais prejudicial ao Brasil do que benéfica, caso não venha associada a acordos que nos permitam entrar no mercado chinês com produtos processados. Hoje os chineses compram soja, mas fecham exportação de óleo, farelo etc. O valor adicionado é deles e essa ferrovia pode somente servir para comprarem nossa matéria prima na ida e voltarem os trens abarrotados de.equipamentos e quinquilharias barateadas, desindustrializando de vez nosso parque.
Não sei se o Brasil ainda é viável, volto ao sentimento que tinha ao final do governo FHC. Hoje, com mais consciência de sua inviabilidade neste modelo político que consegue ser piorado ainda mais por Cunha e seus asseclas. Talvez tenhamos ultrapassado o ponto do sem retorno, não sei.
Mas isso faz sentido, na medida em que vemos o "sistema" agir no Brasil desde junho/2013, nas tais manifestações "despolitizadas". O ataque é visível, as crises presentes, a desmoralização permanente, a mídia repercute amplificada. O ânimo nacional despencou, Dilma amarelou, rendeu-se, pratica uma política neoliberal que nunca deu certo em qualquer lugar onde foi implementada. Pensei que teria ao menos a coragem de cair atirando. Não teve.
E é clara a polarização do "sistema" contra as tentativas de rebeldia, como o banco dos BRICS ou o avanço chinês sobre as áreas consolidadas de interesses. Os recentes acordos para formar um eixo asiático alinhado ao "sistema" mostram isso.
Aguardo com ansiedade a resposta que o plano de concessões despertará nos agentes do "sistema". Se ocorrer o interesse, há uma luz no fim do túnel, é sinal que ele não abriu mão totalmente do Brasil, temos uma chance. Mas se as expectativas forem frustradas é sinal que fomos excluídos de vez do interesse. Aí é sem retorno. Estaremos destinados a ser colônia nesse xadrez.
Colônia por colônia, para mim tanto faz. Norte-americana, européia, russa, chinesa, tudo a mesma coisa.
Para o peão, pouco importa o patrão.
0 Comments:
Postar um comentário
<< Home