Carlinhos Denatran - o Retorno
Lembram-se do Carlinhos, aquele que foi implantar suas teorias sobre trânsito no Iraque, por obra e graça de sua mania com números? Pois é, voltou.
As forças de ocupação não estavam suficientemente preparadas, ainda muito primitivas, para entender o alcance das propostas de Carlinhos, limitando a velocidade dos comboios militares a 10 km/h. Os oficiais de ligação estavam instruídos a não criar mais dificuldades com a ONU, além das já alimentadas por Bush. O equilíbrio era precário. Precisavam ganhar tempo sem desagradar a turma do Kofi Annan.
Primeiro, discutiram à exaustão o texto formulado por Carlinhos. A cada dia, a cada reunião, surgia uma dúvida sobre uma vírgula ou um termo de difícil tradução. Para facilitar, arrumaram um intérprete, o Habib, nascido em São Paulo, neto de um comerciante da 25 de Março. No Iraque já há dez anos, Habib havia desaprendido o português e nunca havia aprendido a falar árabe. Fanho de nascença, ficou mudo. Achado providencial, o Habib.
Superada a questão lingüística, as forças de ocupação despertaram-se para dificuldades técnicas.
" Mr Karlos, 10 Km/h? Quanto medir um quilômetro? Nossos velocímetros marcar só em milhas", esforçavam-se americanos e ingleses.
Enquanto isso, os comboios circulavam em alta velocidade, espantando galinhas e ovelhas e, eventualmente, atropelando alguma criancinha. Nada de relevante, portanto.
Apoteótico, entretanto, foi o apoio que recebeu da população nativa. Quanto mais devagar trafegassem os comboios, mais facilmente seriam atingidos pelos foguetes dos resistentes e por bolotas de cocô de bode, projéteis malcheirosos insistentemente lançados por meninos contra americanos e ingleses, arriscando-se à metralha amiga.
Os iraquianos estavam adorando Carlinhos e exigiam o cumprimento das normas. Os americanos, sem saída, o suportavam no limite do sem-saber-o-que-fazer. Quiseram até dar-lhe a Medalha de Honra do Congresso, desde que voltasse para o Brasil. O Itamarati, após consultas internas e discussões intermináveis, concluiu que Carlinhos seria mais útil à humanidade longe do Brasil, agradeceu e recusou. Que dessem a medalha, mas o Carlinhos lá ficaria. Os comboios começaram a explodir a 10 km/h, para alegria dos artilheiros. Obedientes às leis de trânsito, esses americanos.
Cheio de moral, a medida seguinte do Carlinhos foi estabelecer a exigência de Carteira Nacional de Habilitação para a pilotagem de carros-bomba. Pensando bem, era inadmissível que os carros-bomba, pilotados por motoristas inabilitados, continuassem a fazer vítimas inocentes no caótico trânsito babilônico. Infração gravíssima, com perda de 7 pontos. Evidente que essa norma desagradou gregos e troianos, xiitas e sunitas, que começaram, timidamente, a pregar uma fatwa contra Carlinhos. Os menos exaltados sugeriam a aplicação de um supositório de dinamite. Os mais exaltados, além do supositório, acender o pavio. Dizem que a vingança havia sido planejada pela CIA, mas ninguém tem prova disso.
Face à tão terrível ameaça, Carlinhos fez as malas, mandou-se para o Brasil.
Aqui, recebido com desagrado mas com toda pompa e circunstância, assumiu seu lugar no Denatran e arregaçou as mangas, com febril criatividade.
Brevemente, aguardem, será exigida CNH para pilotar bicicletas. Ainda não foi regulamentada porque Carlinhos não sabe como formular o exame escrito para o batalhão de analfabetos que têm na bicicleta seu único meio de transporte, nem para menores de idade, em atividades lúdicas. Mas ele vai dar um jeito nisso. Incansável, esse Carlinhos.
As forças de ocupação não estavam suficientemente preparadas, ainda muito primitivas, para entender o alcance das propostas de Carlinhos, limitando a velocidade dos comboios militares a 10 km/h. Os oficiais de ligação estavam instruídos a não criar mais dificuldades com a ONU, além das já alimentadas por Bush. O equilíbrio era precário. Precisavam ganhar tempo sem desagradar a turma do Kofi Annan.
Primeiro, discutiram à exaustão o texto formulado por Carlinhos. A cada dia, a cada reunião, surgia uma dúvida sobre uma vírgula ou um termo de difícil tradução. Para facilitar, arrumaram um intérprete, o Habib, nascido em São Paulo, neto de um comerciante da 25 de Março. No Iraque já há dez anos, Habib havia desaprendido o português e nunca havia aprendido a falar árabe. Fanho de nascença, ficou mudo. Achado providencial, o Habib.
Superada a questão lingüística, as forças de ocupação despertaram-se para dificuldades técnicas.
" Mr Karlos, 10 Km/h? Quanto medir um quilômetro? Nossos velocímetros marcar só em milhas", esforçavam-se americanos e ingleses.
Enquanto isso, os comboios circulavam em alta velocidade, espantando galinhas e ovelhas e, eventualmente, atropelando alguma criancinha. Nada de relevante, portanto.
Apoteótico, entretanto, foi o apoio que recebeu da população nativa. Quanto mais devagar trafegassem os comboios, mais facilmente seriam atingidos pelos foguetes dos resistentes e por bolotas de cocô de bode, projéteis malcheirosos insistentemente lançados por meninos contra americanos e ingleses, arriscando-se à metralha amiga.
Os iraquianos estavam adorando Carlinhos e exigiam o cumprimento das normas. Os americanos, sem saída, o suportavam no limite do sem-saber-o-que-fazer. Quiseram até dar-lhe a Medalha de Honra do Congresso, desde que voltasse para o Brasil. O Itamarati, após consultas internas e discussões intermináveis, concluiu que Carlinhos seria mais útil à humanidade longe do Brasil, agradeceu e recusou. Que dessem a medalha, mas o Carlinhos lá ficaria. Os comboios começaram a explodir a 10 km/h, para alegria dos artilheiros. Obedientes às leis de trânsito, esses americanos.
Cheio de moral, a medida seguinte do Carlinhos foi estabelecer a exigência de Carteira Nacional de Habilitação para a pilotagem de carros-bomba. Pensando bem, era inadmissível que os carros-bomba, pilotados por motoristas inabilitados, continuassem a fazer vítimas inocentes no caótico trânsito babilônico. Infração gravíssima, com perda de 7 pontos. Evidente que essa norma desagradou gregos e troianos, xiitas e sunitas, que começaram, timidamente, a pregar uma fatwa contra Carlinhos. Os menos exaltados sugeriam a aplicação de um supositório de dinamite. Os mais exaltados, além do supositório, acender o pavio. Dizem que a vingança havia sido planejada pela CIA, mas ninguém tem prova disso.
Face à tão terrível ameaça, Carlinhos fez as malas, mandou-se para o Brasil.
Aqui, recebido com desagrado mas com toda pompa e circunstância, assumiu seu lugar no Denatran e arregaçou as mangas, com febril criatividade.
Brevemente, aguardem, será exigida CNH para pilotar bicicletas. Ainda não foi regulamentada porque Carlinhos não sabe como formular o exame escrito para o batalhão de analfabetos que têm na bicicleta seu único meio de transporte, nem para menores de idade, em atividades lúdicas. Mas ele vai dar um jeito nisso. Incansável, esse Carlinhos.
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