'Não existe nada mais Z do que um público classe A''. (Caetano Veloso) Parte I
No fim de semana registramos mais uma ocorrência deplorável, o episódio do Desembargador em Santos.
O pior, não é um caso isolado. Chamou-me atenção o nome do infrator: Eduardo Almeida Prado Rocha de Siqueira.
Parece um daqueles nomes quatrocentões, com fumaças de nobreza, do tipo do não perder a genealogia, tão praticado pelas realezas e seus nobres. Nomes dinásticos, de peso e respeito.
Nada contra o culto aos antepassados, mas é uma característica bastante presente de reforço à aristocracia, salóes de festas, casas-grande e senzalas, cafezais e esbanjamento, cana e escravidão.
Não que prespegue esses atributos ao digno senhor magistrado, longe de mim a leviandade de fazê-lo. Como também em momento algum afirmaria, sem conhecimento de causa, que o pomposo patronímico lhe teria asfaltado os caminhos à magistratura superior paulista, certamente recebido pelo reconhecimento de seu profundo saber jurídico e elevado senso de Justiça.
Apenas despertou-me curiosidade por tão pomposo nome. Despretensiosamente, sem qualquer desejo ou intenção de estabelecer possíveis vínculos genealógicos com o distinto Desembargador
O primeiro Prado registrado pela história teria sido João do Prado, nobre em Olivença e que teria aportado em S. Vicente pelos idos de 1531, com Martim Afonso de Souza.
Pronto, encontrado o quatrocentão.
"João do Prado casou-se com Fellipa Vicente, filha dos portugueses Pedro Vicente e D. Maria de Faria, também dos primeiros povoadores e que em 1554 eram agricultores de grandes canaviais e tinham parte no engenho de açúcar de São Jorge dos Erasmos. João do Prado fez estradas no sertão onde conquistou muitos índios bravos e com eles se estabeleceu em São Paulo de Piratininga, onde serviu os cargos do governo, inclusive o de Juiz Ordinário em 1588 e 1592. Foi pai de Maria do Prado que se casou com Miguel de Almeida e Miranda, natural de Cascais-Portugal. Estes últimos foram pais de Filippa de Almeida Prado, que se casou com João da Cunha Lôbo (descendente de Don Fruela II, rei de Leão, Astúrias e Galízia no ano de 923). Filippa e João Lôbo foram pais de Miguel de Almeida Prado, avós de João da Cunha de Almeida, bisavós de Lourenço de Almeida Prado e trisavós de João de Almeida Prado (Cavaleiro do Hábido de Cristo de Itú-SP)" (Silva Leme in Genealogia Paulistana, )
Alguns dedicaram-se também a canaviais, um de seus netos, residente em Indaiatuba, foi pai da Baronesa de Itaim.
A nobreza escravagista marcava presença nos então rincões. Há pouco mais de 130 anos, ainda havia escravizados legalmente nos canaviais e cafezais. Pouco tempo pra perder o ranço supremacista.
Os Almeida Prado, no início do ciclo cafeeiro, eram proprietários de vastas extensões na região de Jaú e Itu, sendo João de Almeida Prado,
(*1757 Itu +1835 Itu), Capitão-Mór de Itu, conhecido como O Coluna de Itu, deixou larga descendência. De seus dois casamentos, foram 20 filhos legítimos.
E o Rocha de Siqueira, menos conhecido, porém também pomposo?
Pode tudo haver começado com Domingos da Rocha Abreu, nome ligado à rota das monções, expedições parte fluviais, parte terrestres, de interligação à Cuiabá, onde ouro havia sido descoberto. Registros indicam que nos idos de 1760, era um dos cincos homens mais ricos de Porto Feliz. Como curiosidade, a colonização do interior além Rio Paraná tinha como ponto de partida Porto Feliz.
Domingos da Rocha Abreu casou-se com Francisca Cardoso de Siqueira. Um de seus dez filhos foi o padre André da Rocha Abreu (+ 1820 Porto Feliz)
Esse padre herdou muitos escravos, mas alforriou, em 1803, alguns domésticos.
Sua origem, por incrível que seja, talvez de negros alforriados lá pras bandas da antiga Araritaguaba, hoje a cidade de Porto Feliz. Escravos do Padre Andre da Rocha Abreu. Alforriados no testamento do padre, como de hábito, assumiam o sobrenome de seus senhores.
A Jesuíno, filho da escravizada Francisca Rocha, cozinheira, alforriados pelo padre André e a seu filho, o padre ensinou música e se fez organista, foi incluído no testamento como herdeiro.
Proprietário de escravizados, sítio e engenho por legado, Jesuíno enriqueceu, pois a condição de alforriado lhe permitia alguma mobilidade social. Em sua morte, no ano de 1836, seu monte-mor foi avaliado em cerca de 8 mil contos, fortuna razoável e surpreendente, dado sua origem.
Era um homem rico e muito bem relacionado na elite local. Embranqueceu na cor e no costume, seus filhos e netos mantiveram escravos até a abolição e preservaram seu status antiabolicionistas.
Interessante a história, mas não há registro que o Rocha de Siqueira tenha origem em Porto Feliz. Apenas uma curiosidade a mais.
Continua em https://fregablog.blogspot.com/2020/07/nao-existe-nada-mais-z-que-um-publico.html
O pior, não é um caso isolado. Chamou-me atenção o nome do infrator: Eduardo Almeida Prado Rocha de Siqueira.
Parece um daqueles nomes quatrocentões, com fumaças de nobreza, do tipo do não perder a genealogia, tão praticado pelas realezas e seus nobres. Nomes dinásticos, de peso e respeito.
Nada contra o culto aos antepassados, mas é uma característica bastante presente de reforço à aristocracia, salóes de festas, casas-grande e senzalas, cafezais e esbanjamento, cana e escravidão.
Não que prespegue esses atributos ao digno senhor magistrado, longe de mim a leviandade de fazê-lo. Como também em momento algum afirmaria, sem conhecimento de causa, que o pomposo patronímico lhe teria asfaltado os caminhos à magistratura superior paulista, certamente recebido pelo reconhecimento de seu profundo saber jurídico e elevado senso de Justiça.
Apenas despertou-me curiosidade por tão pomposo nome. Despretensiosamente, sem qualquer desejo ou intenção de estabelecer possíveis vínculos genealógicos com o distinto Desembargador
O primeiro Prado registrado pela história teria sido João do Prado, nobre em Olivença e que teria aportado em S. Vicente pelos idos de 1531, com Martim Afonso de Souza.
Pronto, encontrado o quatrocentão.
"João do Prado casou-se com Fellipa Vicente, filha dos portugueses Pedro Vicente e D. Maria de Faria, também dos primeiros povoadores e que em 1554 eram agricultores de grandes canaviais e tinham parte no engenho de açúcar de São Jorge dos Erasmos. João do Prado fez estradas no sertão onde conquistou muitos índios bravos e com eles se estabeleceu em São Paulo de Piratininga, onde serviu os cargos do governo, inclusive o de Juiz Ordinário em 1588 e 1592. Foi pai de Maria do Prado que se casou com Miguel de Almeida e Miranda, natural de Cascais-Portugal. Estes últimos foram pais de Filippa de Almeida Prado, que se casou com João da Cunha Lôbo (descendente de Don Fruela II, rei de Leão, Astúrias e Galízia no ano de 923). Filippa e João Lôbo foram pais de Miguel de Almeida Prado, avós de João da Cunha de Almeida, bisavós de Lourenço de Almeida Prado e trisavós de João de Almeida Prado (Cavaleiro do Hábido de Cristo de Itú-SP)" (Silva Leme in Genealogia Paulistana, )
Alguns dedicaram-se também a canaviais, um de seus netos, residente em Indaiatuba, foi pai da Baronesa de Itaim.
A nobreza escravagista marcava presença nos então rincões. Há pouco mais de 130 anos, ainda havia escravizados legalmente nos canaviais e cafezais. Pouco tempo pra perder o ranço supremacista.
Os Almeida Prado, no início do ciclo cafeeiro, eram proprietários de vastas extensões na região de Jaú e Itu, sendo João de Almeida Prado,
(*1757 Itu +1835 Itu), Capitão-Mór de Itu, conhecido como O Coluna de Itu, deixou larga descendência. De seus dois casamentos, foram 20 filhos legítimos.
E o Rocha de Siqueira, menos conhecido, porém também pomposo?
Pode tudo haver começado com Domingos da Rocha Abreu, nome ligado à rota das monções, expedições parte fluviais, parte terrestres, de interligação à Cuiabá, onde ouro havia sido descoberto. Registros indicam que nos idos de 1760, era um dos cincos homens mais ricos de Porto Feliz. Como curiosidade, a colonização do interior além Rio Paraná tinha como ponto de partida Porto Feliz.
Domingos da Rocha Abreu casou-se com Francisca Cardoso de Siqueira. Um de seus dez filhos foi o padre André da Rocha Abreu (+ 1820 Porto Feliz)
Esse padre herdou muitos escravos, mas alforriou, em 1803, alguns domésticos.
Sua origem, por incrível que seja, talvez de negros alforriados lá pras bandas da antiga Araritaguaba, hoje a cidade de Porto Feliz. Escravos do Padre Andre da Rocha Abreu. Alforriados no testamento do padre, como de hábito, assumiam o sobrenome de seus senhores.
A Jesuíno, filho da escravizada Francisca Rocha, cozinheira, alforriados pelo padre André e a seu filho, o padre ensinou música e se fez organista, foi incluído no testamento como herdeiro.
Proprietário de escravizados, sítio e engenho por legado, Jesuíno enriqueceu, pois a condição de alforriado lhe permitia alguma mobilidade social. Em sua morte, no ano de 1836, seu monte-mor foi avaliado em cerca de 8 mil contos, fortuna razoável e surpreendente, dado sua origem.
Era um homem rico e muito bem relacionado na elite local. Embranqueceu na cor e no costume, seus filhos e netos mantiveram escravos até a abolição e preservaram seu status antiabolicionistas.
Interessante a história, mas não há registro que o Rocha de Siqueira tenha origem em Porto Feliz. Apenas uma curiosidade a mais.
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