sexta-feira, setembro 20, 2019

Plano Barão do Rio Branco

A questão é amazônica, até na dimensão geográfica, mais da metade de nosso território nacional. Tratado às escondidas, numa visão geopolítica militar, por isso mesmo limitada, trama-se nas sombras o destino nacional, como se donos fossem do país e das várias nações que o compõem.

"O documento mostra que o governo vê como “riquezas” os minérios, o potencial hidrelétrico e as terras cultiváveis do planalto da Guiana, que ficam entre o Amapá, Roraima e o norte do Pará e do Amazonas. “Tudo praticamente inexplorado”, “distante do centro do Brasil”, “e de costa (sic) para as riquezas do norte”, diz um slide.
O plano prevê três grandes obras, todas no Pará: uma hidrelétrica em Oriximiná, uma ponte sobre o Rio Amazonas na cidade de Óbidos e a extensão da BR-163 até o Suriname. O objetivo é integrar a Calha Norte do Pará, na fronteira, ao centro produtivo do estado e do país. A região, extremamente pobre e com baixa densidade demográfica, está cortada por rios e é de difícil acesso. Também é a mais preservada do Pará, estado campeão em desmatamento. (fonte The Intercept Brasil)
Continua o TIB
"O objetivo é escoar a produção de soja do centro-oeste e integrar uma região até agora “desértica”, nas palavras do secretário Especial de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, general Maynard Santa Rosa, um militar da reserva dado a teorias da conspiração sobre as intenções de ambientalistas na floresta e que alimenta paranoias sobre a insegurança das fronteiras brasileiras no extremo norte devido à “escassez populacional”. Ele defende a extensão da estrada desde pelo menos 2013 Pelo projeto, a rodovia também atravessaria a Reserva Nacional de Cobre e Associados, rica em minérios, e daria acesso a uma região de savanas que pode ser convertida em plantações de soja e milho."
Ou seja, na visão desses militares, sempre respirando conspirações pela absoluta falta do que fazer e com visão absolutamente bitolada, não há outra alternativa além de promover a utilização da amazônia dentro dos preceitos de exploração produtiva preconizados pelo capital. Se a amazônia não for transformada em dinheiro, monetizada ainda que com efeitos colaterais catastróficos, corre risco de internacionalização. 

Este é o primeiro erro fundamental.
A amazônia, enquanto floresta, e com acesso mais precário, é perfeitamente defensável militarmente pelo Brasil. 
Afinal, podemos afirmar que não há outro país no mundo, independente do avanço tecnológico, que detenha o nosso conhecimento de combate em selva. Esse é nosso terreno e ponto forte. Santa Rosa e Heleno sabem disso perfeitamente, já comandaram unidades lá. 
Essa condição se perde totalmente com vias de acesso como planejam.

Há um outro erro absurdo, que suas mentes limitadas não alcançam.
O Brasil tornou-se o maior produtor de alimentos do mundo sem que a amazônia fosse devastada. E muita terra improdutiva ainda existe disponível. Nõ precisa ir longe, basta uma viagem de carro para se atravessar grandes extensões sem ocupação, em latifúndios meramente especulativos. E terras muito mais aptas à produção, diferentemente do solo amazônico com fertilidade bem limitada pelo húmus e com características físicas propícias à desertificação. Além da distância gigantesca aos centros de consumo e pontos de escoamento.
Mas há outras coisas de impacto, talvez até maiores. O regime de chuvas, por exemplo.
Cada árvore de grande porte bombeia água do subsolo profundo para a atmosfera em volume aproximado de um metro cúbico por dia (1000 litros) segundo recentes pesquisas, por transpiração. Que não fossem 1000, mas 100 litros/dia, ainda assim o volume seria incalculável. Grande parte dessa água precipita na própria floresta, irrigando-a. A floresta produz sua própria água de superfície. Seu excedente engrossa a malha fluvial, percola nutrientes orgânicos no solo, alimenta o lençol freático e ainda sobra o suficiente para o grande rio aéreo amazônico, transportando a umidade em correntes de elevada altitude e que suprem o centro-oeste e parte do sudeste com chuvas. Especialmente nas regiões distantes do litoral e submetidas a um ciclo de seca/chuvas. Casualmente é a região maior produtora agrícola do Brasil. Tire-se-lhe a água, virará deserto improdutivo.
"Em primeiro lugar, temos que citar o importante papel da vegetação no território brasileiro, principalmente o da Floresta Amazônica. Nela, por meio da evapotranspiração, uma grande quantidade de umidade é liberada para a atmosfera e, depois, transportada para outras localidades, o que explica a dinâmica dos chamados Rios Voadores, uma vez que a vazão de água presente nessa umidade que se desloca é superior até mesmo à do Rio Amazonas. Essa grande quantidade de ar úmido é a fonte das chuvas em boa parte do ano em várias regiões brasileiras".
Pensem num tiro no pé.
E o que pensam esses generais a respeito de riquezas não renováveis? Seu pensamento é primário. Que sejam retiradas na maior quantidade possível e no interesse dos operadores , exportadas, enriqueçam as grandes mineradoras mundiais, sejam torradas a preços de superoferta, reste para nós, ao fim e ao cabo, a miséria e os buracos.
Estou exagerando? Que fim levou a Serra do Navio, Serra Pelada, minas do Utinga, dentre uma infinidade de outras? O próprio quadrilátero ferrífero de Minas Gerais, já em tempo de phase out, com montanhas ocas, nascentes mortas, grandes superfícies de rejeitos esterilizando terras outrora férteis. Exportamos a riqueza bruta, sequer sem agregação de valor, não poucas vezes subfaturada, restam-nos os buracos e a destruição, igualmente ao que propõem para a amazônia. Não aprendemos com nossos erros? Nossa vocação, na visão geopolítica dessa turma, é ser colônia exportadora de riquezas? E, na hipótese de esgotarmos nossas riquezas e nossa capacidade produtiva, haverá alguma coisa a ser defendida, além de seus soldos? Haverá necessidade de exércitos para servirem de segurança armada aos donos da massa falida?
E  mais grave de tudo, se for possível.
Com que direito esses caras decidem sobre o futuro do Brasil e de seus povos autocraticamente, às escondidas. Será que imaginam que suas estrelas os tornam auto-suficientes e nem percebem que, não fossem elas, conquistadas sabe-se lá como, talvez até em conchavos e coquetéis pois em combate certamente não foi, talvez nem para cafezinho fossem convidados, dada sua indigência intelectual polarizada? Temem reservas indígenas e seu imaginário pleito de formar Estado autônomo? Pois a solução seria outra, não acbar com elas, mas ter presença do Estado brasileiro no local. E nem precisaria ir além das exigências fundamentais previstas na Constituição para serviços públicos.
Como não submeter um projeto dessa amplitude ao Congresso em ampla consulta popular? Por que vêem fantasmas de invasão de terceiros, ameças de ecologistas, comunistas debaixo de seus colchões? Até quando essa doutrina maldita, vestígios zumbis da Guerra Fria, povoará as mentes não tão férteis dessa gente? Quem pensam que são? Ou melhor, será que pensam alguma coisa útil?
É mais do que hora dessa paranóia ter fim.