quinta-feira, setembro 19, 2019

Bode na Sala


Numa negociação, o chamado bode na sala é elemento introduzido para a busca de condição aceitável elas partes. Uma tentativa de chegar a um acordo em algum ponto intermediário entre os extremos. Mas não é adequado a políticas de governo.


Aí está um dos erros mais explícitos do atual governo, a banalização do bode na sala. Políticas públicas não são processos tradicionais de negociação. Há uma proposta, que deve ser madura e sustentável em argumentos. Alguns ajustes são possíveis, os chamados ajustes corretivos, adequando um ou outro ponto que se mostre frágil ou inconsistente. 
Não é, e não pode ser bode na sala, sob pena de transparecer amadorismo, imprudência, falta de rumo.

Esse bate-cabeça não faz bem em qualquer organização, muito mais num governo, que passa a imagem de errático, de não saber o que quer e o que propõe, que segue ao sabor do vento.
Isso não é política de governo que se preze. Por que falo isso? Pelo último bode na sala lançado pelo czar Paulo Guedes. O fim da atualização monetária constitucional do salário mínimo.
Essas coisas têm que ser bem pensadas e ponderadas antes de falar o que não deve, o que não sabe, o que não sustenta. Desmoraliza qualquer equipe, qualquer governo.
Primeiro divulga que proporão uma PEC para eliminar essa exigência, sob pretexto de economizar bilhões. Sempre o mesmo argumento e sempre a mesma magnitude.
Dois dias depois, volta atrás e afirma que isso não está em cogitação.

Eu não tenho nenhuma dúvida que esse governo não possui um plano consistente de ação. Da mesma forma como não apresentou um programa preliminar de governo caso ganhasse as eleições.
Parece um governo inspirado no filme O rato que Ruge, dirigido por Jack Arnold.
Como se fosse um candidato que quisesse apenas causar, que não tinha a menor expectativa de ganhar a eleição e de repente vence. E agora, como descascar o abacaxi, enfrentar a zebra?
Esse governo bate-cabeça mostra-se um desastre político e, de resto, catástrofe geral.