domingo, abril 18, 2021

Cão que Ladra, Morde? Parte 5 – Ambiente de Ruptura

À Junta Militar interessa o caos controlado, nele incluído o desgaste das instituições, a desesperança pública, a queda no padrão de vida, tudo como elemento de motivação psicossocial para um redesenho institucional. Evidentemente, a seu comando. Com exceção a isto, era pauta comum ao criador e criatura.

2019, primeiro ano do governo, foi palco de manifestações semioficiais de repúdio às instituições e de ataques a autoridades do Judiciário e do Legislativo.

Após o Min. da Defesa sobrevoar a bordo de um helicóptero do Exército uma das manifestações contrainstitucionais na Praça dos Três Poderes, acompanhado do próprio presidente e em posição bem visível e identificável pela turba, nítido simbolismo de apoio, parece que a ficha caiu.

Percebido o tsunami que se aproximava, o STF agiu de ofício e deu um chega pra lá preventivamente. Como ainda não havia sido atingido o grau de bagunça necessário à reação em cadeia e tendo surgido (ou vazado) provas das trambicagens familiares da criatura, houve um refluxo do movimento e o próprio Exército decidiu não apoiar um golpe que favorecesse a criatura.

O então Comandante do Exército, Pujol, colega de turma do capitão presidente e amigo há décadas, emitiu uma nota a esse respeito.

A simples existência dessa nota é uma demonstração explícita de que esse tema havia sido cogitado pelo Alto Comando.

O capitão-presidente, também percebendo a intenção de poder de seu criador, agora concorrente, buscou ampliar também suas armas para fazer frente a um possível uso de armas contra si.

Fortaleceu seus liames nas Polícias Militares dando-lhes uma representação no poder político inimaginável pelo Alto Comando. Chegou a subordinar um general de exército muito respeitado na corporação, a um coronel PM e com a instrução clara de submeter-lhe a humilhação funcional. Esse general era o Santa Rosa e no primeiro esporro recebido, pegou o boné (ou quepe, ou boina, o que esteja na moda) e se mandou.

 E aí cabe um adendo e uma explicação.

Nosso Exército, mantido por 25 anos em seu estrito papel constitucional, embora saudoso do protagonismo, tem a necessidade de criar seus próprios heróis na medida em que não há combates para fazê-los.

Da mesma forma como culturalmente se colocam acima da sociedade civil, num patamar mais preparado e apto, mais honesto e importante, dentro da própria corporação elegem subcorporações superiores.

Houve o tempo em que o paraquedista era o ápice da valentia. Como se popularizou demais, o suprassumo passou a ser o “guerreiro de selva”. Também se popularizou, surgiu o Operações Especiais, o Faca na Caveira moda atual.

Nesse contexto supremacista, as Polícias Militares sempre foram consideradas inferiores pelo Exército e isso gerou mágoas também.
O capitão-presidente, conhecedor do fato e malandro juramentado, resolveu fazer das PM o “seu exército” que, associado à organizações paramilitares, milicianas ou somente bem armadas, poderiam fazer frente ao exército em qualquer combate urbano. O suficiente para se prevenir de um golpe por seu criador, que além de tudo poderia se ver desfalcado dos escalões de menor hierarquia em suas próprias fileiras, corrompidos que foram na criação do Mito. 

Dá pra entender?

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