domingo, abril 18, 2021

Cão que Ladra, Morde? Parte 4 – Criador e Criatura

O capitão-presidente percebeu a conjunção de forças que comprometeria seus próprios projetos pessoais de manutenção e concentração dos poderes, pois democracia nunca fez parte de seu ideário político.

De um lado a corrente lavajatista, com a figura de proa de Sérgio Moro agora já assumidamente político no projeto de poder. Do outro, a Junta Militar com a pretensão de continuar governando.

Uma com o Ministro da Justiça e fortes ligações políticas no Congresso e na opinião pública. A outra com o cargo de vice-presidente, primeiro na linha sucessória.

Moro foi descartado na primeira oportunidade e esvaziou-se politicamente, principalmente pela desmoralização que aconteceu depois da chamada VazaJato. Seu espaço político desmoronou e seus apoiadores, majoritariamente e até porque em maioria se compunham no mesmo espectro político da extrema-direita, migraram o apoio para Bolsonaro.


 A segunda corrente, essa mais consolidada, inteligente e forte, precisava ser utilizada e, sutilmente, desgastada na medida do possível.

Está nesse contexto a humilhação a pessoas indicadas pelo Alto Comando, até sugestão de homossexualidade de Santos Cruz, um dos candidatos in pectoris do Partido Militar, foi divulgada. Só como exemplo do jogo sujo desses bastidores.

As farpas endereçadas ao vice-presidente, como “não demito porque não posso” visam o desgaste da corrente.

Mas isso não é o suficiente.

Desde 2013/14, o Alto Comando iniciou ações ostensivas de subversão nos quartéis, um jogo político muito perigoso, facultando o acesso do ex-capitão e criando a imagem do Mito. Afirmo ter sido um processo subversivo porque subverte o princípio fundamental de que Forças Armadas não se envolvem em política ou governos.

O ex-capitão passou a ser figurinha carimbada em toda e qualquer solenidade, principalmente nas escolas de formação, sempre acompanhado e prestigiado pelos chefes e falando como se fosse um dos seus. Claro que isso encantaria os jovens, principalmente os recém doutrinados na disciplina do Ides Comandar, Aprendei a Obedecer.

Se os comandantes prestigiavam, como imaginar que os subalternos fossem contestar.

Esse apoio foi fundamental para a eleição, com direito a ameaças do próprio comandante maior ao STF.
A criatura assumiu o posto, porém era refém do criador. O criador assumiu o comando, mas era dependente da criatura.

Não tinha como dar certo. Como de fato, não deu.


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