Bombardeios Inominados, Vítimas Anônimas
Desde que o homem atravessou os portais da pré-história e passou a entalhar seus feitos em registros escritos, guerras e conquistas sempre foram louvados. Como a deixar referências ao futuro. Como a documentar os feitos guerreiros. Como a eternizar a vaidade dos vencedores.
A partir dos primeiros registros, lá pelos idos 4 mil anos AC, verifica-se que
o genocídio é uma característica humana,
mas não somente. Da vida em sua essência. Eliminação de adversários, de
concorrentes, de grupos ou comunidades deles.
Com a escrita abriram-se as cortinas da chamada História. Ao passar do tempo
muitos registros da história antiga foram descobertos e até desvendados. O mais
extenso deles conhecidos são os registros hebraicos, consolidados a partir de
tradições orais e sistematizados na Torah, absorvida posteriormente pela Bíblia
cristã. (V Dt 20, 10-16 Jz 21,10-12 e muitos outros relatos)
Não são poucos os genocídios ali presentes e justificados como se fossem por
ordem de seu deus. A morte de povos, sua dispersão e extermínio ultrapassou
milênios. Até os dias de hoje, ainda que o deus ordenador tenha mudado de nome
e passado a chamar-se Capital. Mas esse mata pela discriminação, pela miséria,
pela exclusão, pela ganância, solerte e cínico.
Não é possível se afirmar que o genocídio, considerado o extermínio e eventual
escravização de comunidades, seja privilégio de algum povo específico.
Eventualmente ocorre até os dias de hoje em algumas situações. Como também,
ainda que na modernidade em geral se encontre as digitais de mãos ensanguentadas
do Capital, a face visível é sempre o braço armado.
As guerras até o advento da pólvora eram no mano a mano.
Armas cortantes, perfurantes, traumatizantes. A força e resistência física, a
quantidade e disposição dos beligerantes e a capacidade de comando,
principalmente, decidiam as vitórias. Era sangue nos olhos, olho no olho.
Com a pólvora chegou um outro tipo de guerra, maior distância entre os combatentes.
Seu aperfeiçoamento pelo desenvolvimento tecnológico passou a permitir maiores
distâncias, dispositivos de destruição em massa, lanternetas, metralhas, canhões
granadas e assim vai.
De forma geral entre combatentes. Inimigo identificado por cores, bandeiras,
fardamentos.
Um combate personalizado, que eventualmente se desdobravam em cercos, sítios e
geração de fome e pestes como armas de rendição.
A tecnologia evoluiu, compostos outros como a TNG, TNT, e
daí por diante o desenvolvimento de novos artefatos de destruição em massa,
combinados com a evolução dos meios e dispositivos, incluindo a aviação adicionando
uma terceira dimensão aos combates.
A aviação, ultrapassados poucos anos iniciais, mostrou-se efetiva como meio de
destruição em massa. E tornou o inimigo anônimo.
Uma bomba sobre uma cidade provocava vítimas anônimas e espalhava um terror
difuso.
Deu início a uma nova forma de genocídio pelo bombardeio inominado. As vítimas
anônimas. O inimigo deixou de ostentar bandeiras e vestir fardas.
O século XX foi o século do morticínio em massa.
Os bombardeios, nos seus primórdios como bombas lançadas manualmente a partir dos
aviões evoluíram rapidamente. Já nos anos finais da IGG, menos de dez anos do
primeiro vôo do 14Bis, as aeronaves já haviam evoluído a ponto de permitir
bombardeios diurnos e noturnos de alvos táticos, como o Gotha alemão, e causar
enorme impacto psicológico no bombardeio estratégico de cidades, como Londres e
Paris.
O terror vinha dos céus, por ser inominado, não ter endereço certo nem vítima
determinada.
Em poucas décadas, já nos anos 30, os bombardeios tristemente célebres de
Barcelona e Guernica, essa reduzida a cinzas pela Legião Condor e tragicamente
imortalizada por Picasso.
Cerca de duas mil vidas foram retiradas anonimamente. Nenhuma era um alvo
determinado.
A aviação estabeleceu o parâmetro do alvo coletivo.
Na IIGG intensificou-se. Os bombardeios de Londres na Batalha da Inglaterra, e
o mais famoso deles, esse com caráter claramente genocida praticado pela
aliança anglo-estadunidense em Dresden, cidade refúgio alemã para população
civil e sem qualquer objetivo militar. Quatro mil toneladas de bombas
despejadas em dois dias de vagas sucessivas e ininterruptas de esquadrões com a
única intenção de extermínio da população refugiada – crianças, mulheres,
idosos, mutilados – pois aos vencedores competiria a responsabilidade “humanitária” de alimentá-la no próximo inverno. Não
haveria plantação na Primavera e a vitória já estava assegurada. Outras cidades
também foram bombardeadas intensamente, Hamburgo, Munique, Berlin, Frankfurt
etc, também, mas não exclusivamente como forma de eliminação da população civil.
Sempre pode piorar. O próximo estágio do uso do morticínio
em massa como difusão de terror e trauma psicológico deu início à idade
atômica. Hiroshima e Nagazaki, mais de meio milhão estimado de vítimas anônimas
com a primeira bomba de urânio e a segunda, três dias depois, de plutônio. Não
soldados, não combatentes, mulheres, crianças, vida animal e vegetal. Resíduo
radiativo duradouro.
Mas sempre pode piorar.
Até hoje, por tão terrível e capaz de provocar
arrependimento e culpa até em mentes psicopatas de último estágio, nunca mais
foi utilizada essa arma. Mas esses escrúpulos não impediram seu desenvolvimento
com maiores e maiores potências, as primeiras de fissão nuclear, depois de
fusão, a de nêutrons, que mata a vida porém preserva relativamente a infraestrutura.
Com potências superiores a cento e cinquenta vezes as de Hiroshima.
São milhares de ogivas, com capacidade inimaginável de destruição, há quem
afirme em dimensão planetária. Tudo estocado até que um maluco, ou desesperado,
lance a primeira.
A par disso, a tecnologia da destruição e genocídio pelo
bombardeio inominado também evoluiu. A partir dos desenvolvimentos de Werner
von Braun, os foguetes-bombas V1 e V2, lançados da Alemanha atingiam a Inglaterra
visando Londres, a tecnologia do jato a pulso e da reação plena alcançou enorme
desenvolvimento no processo da corrida espacial.
O arsenal bélico decorrente é diverso.
Pequenos artefatos em enxames, cada um com alta capacidade de explosão e com capacidade
relativamente precisa de seleção de alvos. Por vezes os alvos são exatamente áreas
densamente habitadas e em uso noturno. O efeito psicológico é devastador.
A tecnologia de mísseis, de cruzeiro, em rota direta com capacidade de manobras
evasivas contra interceptação.
Mísseis balísticos, com trajetória parabólica, por vezes estratosférica, e elevada
capacidade de portar várias ogivas, cada uma com alvo pré-determinado.
Só que esses alvos táticos se distribuem em áreas urbanas. Pequenos desvios de
rota provocam tragédias anônimas. Vidas reduzidas a número de vítimas anônimas.
Essa capacidade de matar em massa nos traz novamente aos
tempos iniciais da História.
O extermínio étnico, religioso, político de
populações inteiras, anônimas, difusas. Inominadas.
Os genocídios bíblicos pretextado pelo mesmo deus que atravessou milênios.
Há um deles em andamento. Gaza.
A população está sendo exterminada nos mesmos princípios escritos há cerca de
seis mil anos. Com fundamento no mesmo deus, pretexto nas mesmas promessas.
Pelo mesmo povo, ou parte majoritária dele. Que as usa para fins de dominação
política.
O lobby, a herança colonial britânica e o trauma causado pelo
genocídio nazista contra os judeus criou artificialmente um Estado em terras
que já estavam povoadas. Esse Estado, por meio de matanças, expulsões e
agressões, foi ampliando os limites determinados. Sob a cumplicidade cômoda da
ONU e pelo lobby sionista supranacional concentrador do Capital.
Israel, esse Estado artificialmente criado pela ONU, adotando princípios expansionistas busca agora a ocupação do enclave palestino reduzido à Faixa de Gaza. O
genocídio contra a população civil, notadamente contra as mulheres (matrizes) e
crianças (futuro) denotam claramente a intenção do extermínio étnico.
https://youtu.be/9TSZVTW8ul0?si=JMLL2JcYHmnVSpDk
A par desse genocídio, Israel provocou o Irã com um bombardeio surpresa,
alegadamente contra instalações e
pessoas envolvidas com desenvolvimento nuclear, ainda que alegadamente para
fins pacíficos e o próprio Israel dispor de artefatos nucleares,
estimativamente em cem unidades, e não ser signatário de acordo internacional
de contenção desses dispositivos.
A resposta iraniana superou as expectativas de força e com o bombardeamento
inominado de cidades, inclusive a capital, replica o bombardeio também
inominado que Israel promove em centros iranianos.
É o terror como arma de guerra. E há sério risco de expansão e nuclearização
desse conflito.
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