terça-feira, março 25, 2025

Partido Militar II - A Serpente Neoliberal

(Parte I em  https://fregablog.blogspot.com/2025/03/partido-militar-i-o-ninho-da-serpente.html


Um partido político é uma entidade viva e dinâmica, organismo complexo e composto por valores e interesses muitas vezes antagônicos.
É possível entender uma inflexão dos alicerces ideológicos ocorrida após nossas forças em combate ficarem sob comando estrangeiro, incorporadas que foram ao V Exército estadunidense comandado por Mark W. Clark. Dependentes de suprimentos e de ordens diretas, nossas forças simplesmente incorporaram valores da civilização que lhes comandavam. A admiração cresceu, como toda admiração subalterna cresce e se incorpora. Mais ainda quando é elogiada e a FEB o foi.
O nacionalismo, valor até então herdado do Império e incorporado pela República, gradualmente passou a ser substituído pelo alinhamento. 
Pouca coisa é mais significativa do que a declaração dada pelo embaixador nos Estados Unidos designado pelo primeiro ditador ungido pelo golpe de 64, general febiano Castelo Branco.
"O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil", declarou ínclito Juracy Magalhães, general e embaixador designado. Viralatismo maior não creio registrada em nossa história. Mas é simbólica em caracterizar a transposição do orgulho nacionalista pela subordinação, até inveja, dos valores da sociedade estadunidense. Pudessem e fossem aceitos, trocariam de farda incontinenti.

Os Estados Unidos foram os principais beneficiados com a derrota do Eixo na IIGG. Inicialmente limitou-se a faturar fornecendo equipamentos bélicos às potências em guerra contra a Alemanha. Inglaterra, URSS, França, principalmente. Ingressou tardiamente em operações ativas, somente no apagar das luzes de 1941 com o ataque japonês em Pearl Harbor. Coincidentemente quando se começava a registrar a paralisia dos exércitos nazistas em Stalingrado e Kursk, sinalizando o refluxo da maré.
O Teatro Europeu já se exauria com três anos de guerra furiosa. O do Oriente, com o desgaste das potências coloniais Inglaterra e França e relativa incapacidade de sustentar as operações, contra um Japão bem preparado, porém com recursos muito limitados para uma guerra de longa duração.
Ou seja, entraram na boa. Por sorte, mas na boa. E com o privilégio geográfico de dois oceanos a separar-lhes dos principais inimigos.

A prosperidade econômica estadunidense no pós-guerra, seu domínio sobre o Ocidente e disputa com a URSS, outro polo vitorioso, trouxe impactos estruturais às Forças Armadas. Um modelo a ser seguido e perseguido, o progresso econômico, o dinheirismo, a admiração ao american way of life e seu liberalismo propagandeado nas Seleções do Readers Digest e das páginas coloridas da Time-Life. Hollywood e seus açucarados romances numa sociedade libertária idealizada e consumista. O combate ao malvado comunismo, não por ser malvado, mas por ser o polo concorrente.
O colonialismo cultural transmutou o então  nacionalismo no alinhamento subalterno.

E na inveja surda e admiração profunda que historicamente todas as sociedades dominadas nutrem por seus dominadores, os militares adotaram o modelo do liberalismo econômico como a plataforma a ser seguida.
E o dinheiro passou a ser o valor fundamental. Pecunia non olet, dito Vespasiano.

Com o advento das teses neoliberais pela dobradinha Tatcher/Reagan, o Partido Militar as adotou rapidamente como modelo ideológico a ser seguido.
A globalização como pressuposto de otimização de recursos por competência setorizada substituiu a visão anterior de domínio nacional dos meios como instrumento de segurança.
O Partido Militar sofreu assim mudança em seus princípios e valores.
O fortalecimento nacional passava antes para o fortalecimento dos associados.
O tempo das benesses e promiscuidade simbiótica com as corporações econômicas incorporou-se e lançou raízes programáticas no Partido Militar. 
Na lição de Hobbes, dinheiro é poder.
O neoliberalismo movido pelo capital sem pátria ou lei, incorporado ideologicamente pelo Diretório Central. 

(continua em https://fregablog.blogspot.com/2025/03/partido-militar-iii-o-bote-da-serpente.html