Partido Militar III - O Bote da Serpente
(Parte II em https://fregablog.blogspot.com/2025/03/partido-militar-ii-serpente-neoliberal.html
Com a eleição de Bolsonaro em 2018 o Partido Militar chegou ao poder. Como já visto, ocupou todos os espaços possíveis conforme o direcionamento do Diretório Central. Como todo partido o faz.
Também como todo partido, ocupou esses espaços com o objetivo duplo: perpetuar-se no poder e premiar seus correligionários.
A Constituição de 88, muito moderna para a época e até para os dias de hoje apesar das múltiplas alterações e desfigurações, introduziu uma visão do papel do Estado como instrumento de equilíbrio entre o poder econômico e o bem estar social. Numa função biunívoca. Essa visão contraria as teses neoliberais mais profundas, a de que o poder econômico é meritocrata e o bem estar social deve ser buscado individualmente. São visões contrapostas de sociedade.
O Partido Militar, como exposto e defendido anteriormente, perfilha-se as teses neoliberais. Sendo governo, portanto, naturalmente direcionou suas ações econômicas nessa direção. E sendo alinhado, subordinou politicamente o país a essas correntes.
Privatizações, preterimento de políticas sociais, projeto de extinção de alguns braços dessas políticas, continência à bandeira estadunidense, designação de um oficial general para o sub-comando da Força Sul estadunidense. Fim do SUS, da educação pública, estrangulamento das universidades, arrocho do salário mínimo, da previdência pública (as próprias foram generosamente favorecidas), privatizações, desprezo ambiental, à saúde pública, fomento à insensibilidade social e solidariedade coletiva, tudo são elementos dentre outros que buscavam o redesenho do Estado brasileiro pactuado em 88.
Esbarravam, porém, numa condição constitucional que sabiamente foi introduzida: Direitos Fundamentais, Capítulo V da CF, categorizado como Cláusula Pétrea.
O Diretório Central do Partido Militar concluiu que, na impossibilidade de alteração, o caminho seria destruir para reconstruir nos novos princípios e valores. Quais? Os adotados neoliberais.
Só a quebra institucional permitiria essa transformação, com a convocação posterior de nova Constituinte. O pulo do gato.
A instalação da Comissão Nacional da Verdade acendeu a luz de alerta. Nada agride mais ao vaidoso do que expor sua hipocrisia. O conhecimento pode transformar heróis em bandidos. Subterrâneos ocultos não devem ser revirados, zumbis podem brotar das flores em tumbas. Discursos desmentidos.
Coisas de quem é, mas não quer que ninguém saiba. Como canta o fado,"nem às paredes confesso".
Heróis são gente como a gente, gente comum a quem, circunstancialmente, fatos são substituídos por versões. "Eloí, Eloí, lamá sabactani?"
O projeto de conquista do poder tomou forma. os dados lançados.
A escolha recaiu estrategicamente sobre um agente inescrupuloso, ambicioso, estúpido e obediente. Apto a quebrar as instituições, fomentar o caos, a desestruturação e criar o ambiente necessário ao redesenho do Brasil conforme as teses neoliberais do Partido Militar. Ah, essas Cláusulas Pétreas, uma antevisão de Ulysses, Cabral e José Ignácio? Seria tão mais fácil sem elas.
Daí pra frente a história recente e bem conhecida.
Prisão de Lula por um juiz corrompido. Eleição do fantoche em campanha de ódio verdadeira PsyOp que se prolongou após a posse com mobilizações anti- institucionais, contra os demais poderes instituídos. Ações desestruturantes.
A pandemia de fato atrapalhou os planos. Bem que foi tentada sua minimização, manter mobilizações. Foram atropelados pelos cadáveres do descaso, a turma do paulo Guedes foi paralisada, as instituições agiram e impediram que a pandemia fosse utilizada para a implosão do Estado.
As declarações disruptivas do fantoche geraram reações inesperadas, precisaram comprar a manutenção do próprio mandato no Congresso. Ficou claro, precisariam de mais tempo. E só o fantoche reunia as condições de popularidade para sua obtenção. Era só questão de tempo.
Para seu azar, o STF, ou por justiça, ou por antevisão da destruição institucional programada, ou pelas duas coisas, resgatou Lula para o cenário político.
O Diretório Central pressentiu a ameaça capaz de subverter todo planejamento.
O segundo mandato era essencial, reeleger o fantoche era impositivo, ainda que não concluísse o mandato por seu passado imundo, sua família mafiosa, sua ambição desmedida, sua incapacidade antológica. Já tinha representado seu papel, o que se esperava dele, o comprometimento institucional, a quebra na confiança. Para o redesenho não tinha capacidade. O Diretório Central decidiu que um dos seus conduziria o processo da reconstrução. Bolsonaro reeleito não teria vida política longa. Sua cassação daria a legitimidade para que o Vice assumisse. Braga Netto, o general. Pronto para o redesenho nacional nos moldes neoliberais.
A campanha midiática foi forte, mas o primeiro mandato muito ruim. Nada foi realizado além da demolição institucional. O auto favorecimento financeiro dos membros do Partido Militar foi contrastante com um país que encolhia. escândalos de corrupção estrelada surgiam cá e lá. E Lula carregava dois pontos importantes: a memória de seus bons governos anteriores e a forte penetração popular.
Uma possibilidade de golpe surgiu no radar. Multidões já estavam mobilizadas, induzidas a pedir intervenções militares, o ódio às instituições democráticas prosperado, a PsyOp já havia surtido seus efeitos.
Haveria, claro, reação popular, porém dentro da própria sociedade os segmentos mais radicalizados e dispostos à ruptura estavam armados, fortemente armados. Conforme planejado. Muito pouco precisariam interferir com as próprias forças do Estado, apenas para encerrar a guera fratricida. Era um risco, mas que poderia ser corrido com razoável chance de sucesso.
Mas aí veio o recado do governo dos Estados Unidos transmitido por Lloyd Austin: não se atrevam, não haverá apoio dos Estados Unidos a um golpe no Brasil. Até o contrário, haverá represálias. Não, o governo Democrata não estava interessado na democracia no Brasil, pouco se lixava, mas apenas em que aliados de seu adversário Trump permanecessem à frente da maior potência latino-americana.
Bande de água fria. Os ânimos do Diretório Central abalaram-se. Cindiram-se entre os disruptivos entusiasmados e os disruptivos encabulados.
Os primeiros, topando tudo incondicionalmente, os segundos, também, mas com condições.
O segundo mandato precisaria vir das urnas. Ou pela desmoralização delas.
Face à mudança brusca de cenário, o Diretório Central adotou duas ações.
A primeira, que se utilizassem todos os recursos públicos, pouco importando a moralidade, para obter apoio e votos.
A segunda, que se utilizassem todos os meios, morais ou não, legais ou não, para desmoralizar o processo eleitoral e os próprios adversários.
A primeira foi comprada no Congresso. Precatórios, auxílios a categorias, redução de ICMS, explosão do Bolsa Família e mudança de seus parâmetros e limites.
A segunda, bem, o TSE não topou. O ódio ao então presidente dessa Corte muito deriva daí.
Perdida a eleição e frustrados os meios de comprometê-la, restava o golpe puro e simples. Mobilização popular incrementada, acampamentos em quartéis, tentativas de assassinato, bagunça terrorista na diplomação (por isso foi antecipada de surpresa). Nada parecia estar dando resultado para impedir a posse.
Um atentado terrorista de alto impacto, talvez fosse uma condição para impedir a vinda de mandatários estrangeiros e comprometer a própria posse.
Bomba no aeroporto de Brasília para explodir na véspera do Natal. Última cartada, centenas, talvez milhares de mortos poderiam criar a comoção necessária para uma GLO e suspensão da posse daí a uma semana. Talvez até forjando o comprometimento dos vencedores da eleição.
A incompetência dos agentes e a rápida investigação da PCDF desmontou a ação desesperada. Os terroristas eram acampados e protegidos pelo próprio Exército. Que feio!
Posse inevitável. Espera esvaziar, todo mundo vai embora. Fim de semana seguinte, os atos terroristas de 8 de Janeiro. Última oportunidade para uma GLO e virada de mesa.
O último bote da serpente.
(continua em https://fregablog.blogspot.com/2025/03/partido-militar-iv-o-ocaso-da-serpente.html
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