Hora do Parlamentarismo
Há um fato que não se pode mais esconder. O modelo politico
definido na Constituição de 88 foi erodido. Em parte, pela própria
Constituição, semirrígida e analítica. Era de todo necessário que assim fosse quando
o país emergia de outra destruição institucional, promovida pelo último golpe
de estado e que durou vinte e um anos. Em parte, pela própria disputa política,
inadaptada ao debate e mais propícia ao embate. Resíduos de um século de
autoritarismo derivado do supremacismo do militarismo positivista imiscuído na
política.
Todo esse ambiente permitiu que a política fosse atacada, corroída e corrompida
por dentro, pelo uso do Judiciário em disputa ele próprio pela hegemonia. Me refiro
mais especificamente, mas não com exclusividade, ao lawfare criminoso da Lava
Jato.
A atuação combinada de um juiz corrupto com uma imprensa sensacionalista e de
um MP ganancioso e também ator político, foi a pá de cal no modelo constitucional.
Verdade que tivemos duas oportunidades perdidas.
A primeira na própria constituinte, que se encaminhava para um parlamentarismo,
porém adotou o presidencialismo no voto constituinte. Resultou num conceito
híbrido de presidencialismo de coalizão, ou parlamentarismo de ocasião.
Poder e responsabilidade precisam caminhar de mãos dadas. Esse hibridismo
acabou por limitar o poder, não a responsabilidade do Executivo e ampliar o
poder, sem responsabilização, do Legislativo.
O pior dos mundos.
Mas a própria Constituição previa uma consulta popular cinco anos após sua
promulgação. A sociedade seria chamada a optar pelo sistema e forma. Monarquia
Parlamentarista ou República. Sendo República, presidencialismo ou parlamentarismo.
A par da malandragem da formulação da questão, induzindo a erro, foi intensa a
propaganda em prol do presidencialismo, em campanha claramente de desinformação.
Venceu o presidencialismo, porém o hibridismo constitucional não foi adaptado a
ele.
Gradativamente atribuições do Poder Executivo foram sendo transferidas, ou
usurpadas, para o Legislativo. O que originalmente deveria se limitar à
aprovação do planejamento federal resultando no PPA, LDO e LOA e posterior
fiscalização de sua execução, passou a ter seus limites ampliados, resultando
em emendas impositivas e, mais recentemente para evitar um impedimento do estão
presidente da República por crime de responsabilidade contra as instituições
democráticas em 2021, com a instituição do chamado Orçamento Secreto, uma
negociação do então responsável pelas relações institucionais, o indigitado
General Ramos.
Se a quadrilha lavajatista foi a responsável pela pá de cal no modelo político
constitucional, o desgoverno dos marechais foi a pá de cal no modelo
institucional desenhado na Constituição.
Os apontados conflitos entre poderes, numa escala crescente de gravidade,
começam a demonstrar que a degradação e corrupção dos princípios
constitucionais são o combustível para a instabilidade.
Cada vez mais Legislativo executa, o Judiciário legisla, o Executivo é responsabilizado
por ser impedido de cumprir seus compromissos eleitorais sem precisar negociar
sob chantagem.
Esse é o quadro, infelizmente.
Eu vejo somente uma solução. O Executivo encaminhar uma
Proposta de Emenda Constitucional para alterar o sistema de Presidencialista
para Parlamentarista.
Fica o Presidente com as funções de chefia de Estado e com o poder de dissolver
o Congresso e convocar novas eleições legislativas, em caso de impasse legislativo
sobre a chefia do governo, podendo designar provisoriamente Chefe de Governo enquanto
perdurar o impasse.
Instituir o voto distrital misto para a Câmara Federal, com 1/3 proporcional em lista
partidária estadual e 2/3 por voto majoritário no Distrito Eleitoral.
Manter o voto majoritário para o Senado Federal com dois representantes por
estado, mandato de oito anos com início alternado, garantindo eleição de um a
cada quatro anos.
Eliminar a reeleição para os Executivos e limitar a dos Legislativos a dois
mandatos sucessivos para a mesma função.
Isso deverá fortalecer os partidos políticos, atribuir responsabilidades
fiscais, de gestão e de popularidade aos reais gestores, Deixar as instituições
de estado fora das ingerências de governo e, talvez, nos permitir a estabilidade
necessária ao enfrentamento de tantos desafios que temos pela frente.
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