Selva Terrorista Parte III – E Agora?
Imaginar que o grupo golpista fascistóide abandonou seu projeto de poder seria ingenuidade perigosa.
A extrema direita pode ser comparada a uma Hydra de Lerna política, com suas
múltiplas cabeças de serpente autorregenerativas e mortalmente peçonhenta até
pelo hálito.
Sua cabeça do meio, a imortal (mas nem tanto), é a meia verdade. As outras, as mentiras, a ausência da
verdade. A mentira não cria verdades, mas decepada, cria novas mentiras.
Já a meia verdade as cria factoides com cor e forma de verdades a partir de
mentiras.
Meias verdades são a alma mater dos enganos, dos erros, dos ódios, dos
conflitos, das injustiças. Haverá um Hércules que a consiga decepar a cabeça
imortal das meias verdades e enterrá-la sob as pedras?
Há. Chama-se Estado Democrático de Direito. Por isso a necessidade de defesa intransigente da democracia, de suas instituições, do respeito à cidadania coletiva.
Como sobreviver
à frustração dos planos dick-vigaristas?
Vejo dois
cenários possíveis.
Cenário 1 – Gestão
de Danos
Após dar tudo
errado no Plano Dick Vigarista C3, passou a ser necessário o resgate de imagem
das forças golpistas, em especial as do Exército.
O então comandante do Comando Militar do Sudeste, o de maior importância em
efetivos e que acolheu e fomentou um grande acampamento de golpistas em área
militar do QG no Ibirapuera, verbalizou pronunciamento em defesa dos valores
democráticos, o que foi muito bem recebido. E isso coincidindo com a exoneração
do então comandante do Exército por divergência em um caso administrativo. Tudo
muito oportuno. Substituiu o exonerado e age para descolar a imagem do Exército
dos golpistas a par de dar apoio à democracia.
Bem se percebe que esse movimento trata de gestão de danos. Alguns oficiais
serão afastados, outros processados e condenados pela Justiça comum,
eventualmente alguns também pela Justiça Militar, podendo até ocorrer expulsão
por indignidade. Serão imoladas tantas figuras quanto necessárias para
preservar a instituição. É uma questão de sobrevivência corporativa.
Da mesma forma como os colegas atravessavam a rua para não encontrar com o
capitão Bolsonaro proscrito ao mesmo tempo que votavam nele e em seus filhos, o
exercício do momento é se afastar dos escolhidos para o holocausto purificador
na reconstrução da imagem de submissão à democracia. A declaração do dublê de marechal
e senador, Mourão, foi esclarecedora como exemplo.
https://www.metropoles.com/colunas/guilherme-amado/mourao-coronel-lawand-jogou-carreira-na-latrina-ao-incitar-golpe
Por evidente, Lawand, Cid, mais um ou outro oficial, nenhum general, alguns
suboficiais e praças purgarão a culpa golpista.
A par disso, a
despolitização dos quartéis será promovida e desestimulado o envolvimento em
assuntos políticos.
Isso não significa em absoluto uma revisão estrutural, um abandono do anseio de
protagonismo político, mas um recuo oportunista. Oxalá esse recuo se
transformasse em reposicionamento real, porém não há indicativos disso.
Cenário mais
provável, trará à sociedade um período de trégua. E, se assumida a
possibilidade de reposicionamento, de uma nova era sem golpes, pondo fim a um
ciclo de sucessivos golpes e instabilidades que nos infelicitam há cento e
trinta anos.
Cenário 2 –
Retomada do Golpe
É conhecido que
o golpe somente não aconteceu por ordem de Biden. É lógico que não lhe moveram
amores pela democracia no Brasil, mas interesses. Interesse de não haver um
antagonista presidindo a segunda maior democracia do mundo. Interesse em
atrair, por gratidão, a maior liderança geopolítica terceiro-mundista e sócio
do Brics. Sem contar a composição necessária para o enfrentamento político com
a China, atualmente a maior ameaça à hegemonia estadunidense e à pax
americanae.
Mas acontece que Lula tem uma posição nacionalista muito forte em sua política
externa.
Busca
composição e negociação com todos os países conforme o interesse
individualizado do Brasil, relegando a segundo plano os interesses geopolíticos
dos países líderes e de blocos.
Isso desagrada a Biden, que já manifesta seu desagrado com as atitudes do
aliado. No limite, pode decidir afrouxar as posições antigolpistas, o que
poderia animar a alguns por verem um campo aberto a negociações.
https://sputniknewsbrasil.com.br/20230621/lula-nao-reconheceu-o-que-fizemos-pelas-eleicoes-no-brasil-diz-ex-embaixador-dos-eua-em-brasilia-29312217.html
Não à toa que Lula tem procurado fortalecer os laços comerciais e pessoais com
a comunidade internacional, reinserindo o Brasil no tabuleiro geopolítico como
voz ativa com protagonismo. É evidente que, independente das razões outras,
esses laços fortalecidos trariam reações e represálias num ocorrência de quebra
institucional no Brasil.
Mas de qualquer forma, esse é o cenário menos provável, virtualmente impossível. Os Estados Unidos têm eleições presidenciais no ano que vem, coincidindo com nossas municipais. Não acredito que Biden, candidato à reeleição, considere ser hora de bola dividida no quintal.
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