Partido Militar I - O Ninho da Serpente
Muito já se escreveu sobre a origem do alargamento dos militares na política, fato que levou desde o
golpe militar-positivista republicano até a série de instabilidades
institucionais e golpes, vitoriosos ou não, no Séc. XX e a recente fracassada tentativa no Séc. XXI.
Também é fato que o positivismo político no Brasil entrou em declínio a partir
do maior contato com a cultura estadunidense, pela nossa participação com a FEB, forma criativa de Getúlio para evitar a perda territorial definitiva do Brasil para
os Estados Unidos, limitando-a à cessão provisória de base aeronaval em Parnamirim durante
a Segunda Guerra. Seria ocupada de qualquer forma, bom então que fossemos aliados.
Velha raposa, sabia que a neutralidade implicaria na ocupação definitiva. Se aliados, abriria espaço para negociação e manutenção da soberania brasileira.
A FEB, a par dos atos heroicos que surpreenderam até os já experimentados
comandantes em combate por anos, teve participação simbólica contra um inimigo já enfraquecido e em retração, que estabeleceu barreiras na retirada para redução de danos.
Em compensação, ganhamos a contaminação de nossos militares com conceitos sócio-econômicos,
maniqueístas e ideológicos, formulados na Guerra Fria.
O nacionalismo
gradualmente passou a ser substituído pelo alinhamento subalterno.
O golpe de 64, sabe-se hoje, tramado e urdido pelo Departamento de Estado e
executado por seus fiéis delegados no Brasil, alguns febianos por coincidência(?), foi o ápice dessa etapa. E
nascedouro do Partido Militar por uma simples razão: era
inevitável que a democracia seria restaurada.
Em vinte e um anos uma nova
geração já havia surgido, o modelo esgotado, anseios de liberdade eram cada vez
maiores, ditaduras mundo afora ruíam, os ventos de liberdade passaram a soprar
também aqui.
Acontece que o positivismo, em sua decadência, criou um espírito de autodefesa
supremacista, reforçado pelo papel de agentes do pólo maior num mundo dipolar.
O sucedido não ama ao sucessor.
Sucedida a ditadura pela democracia, verifica-se uma alteração estrutural. As
armas deixam de ser uma opção para a conquista do poder, os métodos do
adversário devem ser adaptados e utilizados. Os democratas eram os adversários.
É o embrião do Partido Militar.
Até então correntes políticas diversas dentro das próprias Forças Armadas
algumas vezes disputaram entre si. A última vez em que isso se manifestou de
forma mais explícita foi em 77, numa tentativa de uma corrente mais radical para derrubar Geisel.
Assim, o Partido Militar, ainda que sem se estruturar como um partido formal, apenas movimento surdo nas casernas, tal qual os outros partidos políticos e com métodos semelhantes, objetivou a conquista do poder político.
Uma figura estranha, militarismo e política são antagônicos.
O primeiro tem como fundamentos a hierarquia e a disciplina. A segunda, a
negociação e o consenso.
O Partido Militar não abandonou internamente os fundamentos da
hierarquia e disciplina. O Alto Comando passou a ser o equivalente Diretório
Central, a capilaridade se estendia das grandes às pequenas Unidades, das
estrelas às divisas. Doutrinação única, os objetivos estratégicos guardados na
alta cúpula, a cooptação pelos escalões hierárquicos.
Se isso ocorreu de forma orgânica? Sim, a partir de um planejamento estratégico
com objetivos e metas bem definidas e táticas bem estruturadas nos conceitos de
psicologia das massas.
Pode-se dizer que a instalação da Comissão Nacional da Verdade foi o catalisador
das ações coordenadas. Dessas ações surgiu Bolsonaro, como elemento do Partido
Militar infiltrado na estrutura política civil.
Os atos sequenciados para o Partido Militar assumir o poder político civil
tiveram início público em 2014, na formatura da Aman. Neste ponto sugiro a
leitura do artigo em https://fregablog.blogspot.com/2022/08/de-proscrito-mito-parte-i-o-resgate-da.html
Daí em diante, os movimentos foram encadeados conforme planejado.
E cronogramadas as ações de guerra psicológica, de propaganda e de
cooptação e intimidação de segmentos foram ocorrendo.
Muito provavelmente o impedimento de Dilma Rousseff não tenha sido um desses
movimentos programados, mas rapidamente
foi aproveitado pelo Partido Militar. Caiu em seu colo um atalho, a
garantia institucional do governo derivado do golpe político. A menção ao torturador Brilhante Ustra em plena sessão de votação do impedimento na Câmara é simbólica como ocupação de espaços políticos pelas correntes mais radicais do Partido Militar.
O aproveitamento tático do terreno.
Rapidamente algumas funções estratégicas foram preenchidas pelo Partido
Militar. Recriado o GSI, generais foram designados para funções de controle das
informações. A neutralização do STF, com a designação pelo Partido Militar de
um general para assessorar o Presidente do STF, instituição que poderia comprometer
os planos. Fernando de Azevedo e Silva, general do Diretório, era a ponta de lança do Partido Militar
a controlar, informar, ameaçar e fazer valer os planos de ocupação do poder
político.
Quando surgiu um fato que poderia comprometer os planos, outro general do
Diretório Central do Partido Militar, Ministro da Defesa Eduardo Villas Bôas, simplesmente divulgou uma mensagem
ameaçadora em rede social. O STF acovardou-se por 6x5. Azevedo e Silva,um dos dirigentes do Diretório Central, estava
lá com suas estrelas para garantir o placar.
Generais com tradição familiar linha dura, como Etchegoyen, instalados dentro
do Alvorada. O quanto assombraram ao presidente timorato e vaidoso, talvez a
história conte daqui a cem anos. Ou nunca saberemos.
Mas o poder político foi conquistado. O Partido Militar chegou lá com a eleição do agente Bolsonaro em 2018.
Abaixo uma relação incompleta da ocupação do Poder Executivo pelo Partido
Militar em 2019. (não cito a fonte por saber que já foi perseguida e até punida
por expor fatos. Não há porque prejudicá-la ainda mais. Caso leia este escrito,
saberá de meus agradecimentos)
(continua em https://fregablog.blogspot.com/2025/03/partido-militar-ii-serpente-neoliberal.html
Presidente: capitão de artilharia AMAN 1977.
Vice-presidente: general de artilharia AMAN 1975.
Min Casa Civil: general de cavalaria AMAN 1978
(ATIVA!).
Min SEGOV: general de infantaria AMAN 1979
(ATIVA!).
Min SEGOV 2: general de infantaria AMAN 1974.
Min Defesa 1: general de infantaria AMAN 1976.
Min Defesa 2: general de cavalaria AMAN 1978.
Min Defesa 3: general de infantaria AMAN 1980.
Min Minas e Energia: almirante EN 1979 (ATIVA!).
Min GSI: general de cavalaria AMAN 1969.
Min Saúde: general de intendência AMAN 1984
(ATIVA!).
“Ministro” secretário de Assuntos Estratégicos:
almirante EN 1979 (ATIVA!).
Ministro da C&T: tenente-coronel FAB AFA anos
80.
Ministro Infraestrutura: major de engenharia AMAN
anos 90.
Porta-voz presidente: general de cavalaria AMAN
1981 (ATIVA!).
Presidente EBC: general de infantaria AMAN 1978.
Presidente Itaipu 1: general de engenharia AMAN
1972.
Presidente Itaipu 2: general de infantaria 1972.
Presidente Correios: general de infantaria AMAN
1976.
Presidente Petrobras: general de engenharia AMAN
1972.
Presidente Estatal Hospitais Universitários:
general de engenharia AMAN 1975.
Embaixador Israel: general de infantaria AMAN 1975.
Secretário Nacional Segurança Pública/Min Justiça:
general de infantaria AMAN 1976.
Secretário Segurança Pública SP: general de
artilharia AMAN 1976.
Presidente Postalis: general de infantaria AMAN
1977.
Chefe Escritório APEx nos EUA: general de
artilharia AMAN 1977.
Secretário Saúde DF: general de infantaria AMAN
1976.
Presidente FINEP: general de engenheiro militar
AMAN 1976.
Presidente SUDENE: general de infantaria AMAN 1977.
Presidente INCRA: general de infantaria AMAN 1978.
Presidente DOCAS BA: general de infantaria AMAN
1977.
Deputado Federal 1: general de infantaria AMAN
1976.
Deputado Federal 2: general de infantaria AMAN
1976.
Milhares de oficiais e praças em funções DAS nos Ministérios e Autarquias
Milhares de tenentes e praças como bedéis das
Escolas Cívico-Militares
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