Tempos Novos, Novas Calamidades
São muitos fatores, nem dá pra saber todos. Os mais visíveis decorrem de dois cataclismos sociais, ocorrências de alto impacto: a falência do modelo neoliberal, para a melhoria inclusiva da qualidade de vida, e a digitalização do mundo, quebrando todos os paradigmas e fronteiras na informação.
Não há registro de transformação conceitual e estrutural tão grande na história da humanidade, talvez desde o domínio e absorção dos neandertais pelo sapiens.Poucos restam das gerações da primeira metade do Séc XX, muito menos dentre eles, quase exceções, os adaptados aos tempos atuais.
Os oriundos da segunda metade, navegam entre os dois mundos sem ser nenhum o seu completamente. Ainda com as estruturas sociais herdadas, convivem com as novas decorrentes dos fenômenos citados, mas sem partilhar completamente dos mesmos entendimentos.
E a geração do Séc XXI que, surgida no novo ambiente, já demonstra algumas das adaptações e dão uma sinalização para onde humanidade seguirá.
Dente elas, a fragilidade e superficialidade das relações sociais e pessoais, baixo compromisso e empatia, desprezo à fixação de informações por dispor de todo o conhecimento humano, até hoje adquirido, na ponta do dedo, nas nuvens de armazenamento, nas telas dos dispositivos.
Não só de todo o conhecimento, mas de todas suas versões, o que transforma a desinformação numa simples forma de informação, o que nivela verdades a mentiras, dando-lhes igual valor.
Da mesma forma, a banalização da violência, sofrimento, dor e morte alheias pela massificação de jogos eletrônicos cada vez mais realistas onde realidade e ficção se fundem nos dispositivos de inteligência artificial.
Isso é bom ou ruim?
Não dá pra saber, o que se sabe é nada, mas dá pra supor algumas coisas.
Todos os conceitos morais, religiosos inclusive, caminham para sua substituição.
Nesse novo mundo nada é perene e nem permanente. Tudo transitório e descartável. Incluindo as relações de poder.
Novas instituições com caráter mais imanente e menos transcendente. Imediatismo e descartabilidade. Verdades radioativas com vida média de horas, talvez até menos, em sua alta rotatividade por substituição.
Nenhuma instituição que conhecemos, nenhuma mesmo, sobreviverá talvez a mais um século.
Talvez nem a própria presença humana na Terra sobreviva. Pois nunca a humanidade foi tão ameaçada de extinção.
O paradoxo civilizatório. A evolução conduz à extinção.
Toda essa exposição é para chegar ao hoje.
Essa desconformidade entre cultura e o neoambiente leva a uma dissonância complexa. Uma retroação aos princípios da própria evolução civilizatória. O domínio pelo mais forte, pelo mais hábil, pelo mais solerte, pelo mais insensível, pelo mais apto à sobrevivência e perpetuação da espécie.
O processo da seleção natural considerou todos esses fatores, isso é darwinismo puro.
Só que agora destrambelhou ladeira abaixo sem fim e sem freios, incontrolável, muito além de qualquer capacidade de reflexão e autocontenção.
Ainda não sabemos, inadaptados que somos e os que ainda dirigem a sociedade a esse novo mundo. Os remédios que usam têm mais contraindicações e efeitos colaterais negativos do que cura. Mas não há outros, não se conhece outros.
A violência é um deles.
Então, a violência é um dos remédios atávicos e conhecidos. A eliminação dos mais fracos, dos concorrentes, a eugenia social.
A falência do neoliberalismo, versão revolucionária do liberalismo, reforçou com contingentes a extrema direita, com toda sua truculência e reacionarismo. O que parecia ter sido superado no mundo pós IIGG, não estava e nem era fênix, que ressuscitava. Simplesmente não havia morrido, não tinha dado tempo de morrer em poucas décadas. Estava cataléptica somente.
Governantes mais toscos e primitivos apelam para o armamentismo, fazendo da arma o uso político para disputa do poder. Adversários viram inimigos. Argumentos verbais perdem força, o convencimento deixa de ser objetivo, o diálogo e composição se prejudicam.
Aflora o primata original, a lei do mais forte.
No caso, o que possui maior capacidade de eliminar seus adversários. Ou inimigos. À bala.
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