Trocando em Miúdos
Por definição, debate não é lacração e não se pode perder o olho no objetivo: para líderes, manter seu eleitorado e, se conseguir, captar alguns votos de indecisos.
Aos sem viabilidade eleitoral, conquistar votos dos líderes e dos indecisos e marcar posição.
Para Lula, a estratégia me parece ser muito simples: manter as intenções de
voto lhe assegura a vitória.
Para Bolsonaro, também me parece muito clara a estratégia recomendável: manter
as intenções de voto e retirar alguns votos de Lula.
Para Ciro, a estratégia deveria ser buscar esvaziar a votação de um dos líderes
para ter acesso ao segundo turno, sempre uma nova eleição.
Os outros, trata-se somente de marcação de posição e visibilidade.
Esta eleição está entre dois, talvez entre três, se os fados favorecerem a
Ciro.
Então, de baixo pra cima.
Ciro deveria ter escolhido como alvo preferencial o candidato com maior
fragilidade, para busca de votos. Em sua avaliação, o de maior fragilidade,
vejam só, é o líder Lula, não o segundo colocado.
Isso porque o eleitorado de
Bolsonaro é o reacionário, o fundamentalista, o com certezas inabaláveis.
Essencialmente ignorante, é menos permeável a argumentação lógica. É
maniqueísta por natureza.
Ciro adotou atacar Lula, expor suas fragilidades.
Não se trata aqui de avaliar a
moralidade da opção, mas da estratégia. Ciro acertou. É mais fácil roubar
eleitores de Lula do que de Bolsonaro.
Por esse motivo ontem, imediatamente após as considerações finais e ainda sem
maior reflexão, considerei que Ciro foi o vencedor, ou seja, o que adotou a
estratégia de maior eficácia.
Já Bolsonaro incorporou a personagem da ignorância, do
desrespeito, da mentira, tudo no agrado de seus eleitores.
Não tinha o que defender, por isso mentiu o que pode e atacou seu adversário principal,
o líder nas intenções.
Aí entra o pulo do gato.
A razão para esse ataque não era para roubar votos do Lula, isso sabe que é
impossível por ser um eleitorado antagônico a ele. A tática era, por tabela,
fortalecer Ciro, esse sim com condição de roubar votos do Lula.
Caso nessa reta
final Ciro coopte 20 pontos do Lula, disputará o segundo turno com Bolsonaro.
São evidentes duas coisas.
Bolsonaro prefere Ciro do que Lula como adversário.
Na pior das hipóteses, se ainda assim Ciro não conseguir votos suficientes para
ir ao segundo turno, Bolsonaro disputará com Lula, que teria se enfraquecido no
embate, provavelmente apresentando viés de baixa nas intenções de voto no
primeiro turno.
Por isso, atacou Lula de forma até vil, desrespeitosa, consciente. E contou, a
seu favor, com a inexplicável apatia de Lula, irreconhecível.
Lula, o craque, o dono do campo e da bola, o técnico e o goleador. O que será
que aconteceu com ele? Me lembrou o debate em 89 com o Collor, onde teve um
apagão pelo blefe combinado com a Globo.
Ser velho é se lembrar das coisas rs. Muitos dos leitores ainda estavam nos
cueiros, ou nem nascido, naquele tempo. Enfim, qual a tática que Lula deveria
ter executado?
A estratégia, como dito acima, seria simplesmente não perder votos. De quebra, criar
a menor quantidade de arestas para um eventual segundo turno, transformando os
adversários de hoje em apoiadores amanhã.
Pois bem. Como defender seu eleitorado?
Frustrando os ataques de seu principal oponente, mostrando-se altivo e capaz de
combatê-lo com as mesmas armas com que fosse atacado. Usar a desmoralização
contra a desmoralização, a acusação contra a acusação. A única transigência
possível seria reagir, não agir, não tomar a iniciativa.
Não o fez. Terá sido tática pensada, ainda que errada, ou uma desestabilização?
Acusado de corrupção, poderia relacionar os casos de corrupção explícita, desde
os cheques para a Micheque até a lavanderia na loja de chocolates. Passando por
cartão corporativo secreto e milionário, esconderijo do Wassef pelo miliciano
Queiroz, rachadinhas e rachadões, mansões subfaturadas, orçamento secreto
delegado ao Centrão, notas frias de gasolina, sei lá, o rol é infindável.
Pra pegar votos do Bolsonaro? Não, apenas para não perder os seus.
Desqualificar
as acusações.
Não o fez, preferiu costear o alambrado, fugir da resposta direta e insistir em atos de seu governo, deixar impressão fluida
sua inocência do mensalão à LavaJato, como se fosse somente uma inocência
formal de alguém com culpa no cartório.
Não convenceu a quem tem alguma dúvida e, ainda assim, está disposto a votar
nele. Na melhor das hipóteses, manterá esse voto útil, sem entusiasmo. O mesmo
voto que pode migrar pra Ciro, fazendo o jogo de interesse do Bolsonaro.
De resto, sem viabilidade, destacou-se Simone Tebet, não exatamente por suas
propostas, mas pela combatividade e fluidez da palavra.
Pois bem.
Não é a torcida que impede o adversário de marcar um gol, não é a fantasia que
consegue, por si, mudar a realidade. Não são o meu voto e vontade que prevalecerão,
são apenas um numa centena de milhões. O meu voto está consolidado, mas aguardo
as próximas pesquisas pra avaliar o dano causado.
E até se realmente houve dano.
Porém, hoje penso que se o comitê de campanha de Lula não repensar e rever as
táticas e se o próprio Lula não pegar esse bagual pela rédea, experiente e intuitivo
como é, poderá ter surpresas daqui a um mês.
Clima de já ganhou nunca deu certo.
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