sexta-feira, janeiro 07, 2022

Bandidos e Mocinhos


Depois de tanto desgaste e com a associação fortalecida entre as Forças Armadas e governo, tornando explícito quem governava de fato, era necessária uma manobra para aparentar uma separação entre uma coisa e outra. O papel do Ofensor e do Defensor precisava ser clarificado.

Militares de alta patente simulam um rompimento com o governo, é necessário para figurar a existência de uma facção democrática e legalista. Um pé no barco, outro no cais. Sempre é necessário um plano alternativo nas mudanças de cenário.

As manobras são planejadas para coincidirem com o 21 de abril e 7 de setembro É notável a tentativa subliminar de vincular à datas importantes da nacionalidade. Notam o planejamento e sua cronologia?

O primeiro ato foi demitir o general intendente da ativa que ocupava o Ministério da Saúde nos tempos protelatórios da cloroquina. Foi agraciado com uma asponeria no Planalto, longe de holofotes.
Na sequência, a Ordem do Dia em comemoração ao golpe de 31 de março, em termos dúbios, não enfáticos, mas de defesa da democracia.
O próximo passo ocorreria no entorno de 21 de abril.

Pois bem, tramada com antecedência, a primeira foi precedida por uma escalada de ataques do presidente a instituições e a pessoas, tensionando a ponto de figurar uma ruptura iminente. A bazófia indicava que teria o apoio das Forças Armadas. O Comandante do Exército, contemporâneo de Aman do presidente, emite uma manifestação legalista. O presidente determina ao Ministro da Defesa sua substituição, o Ministro recusa-se. O presidente demite o ministro, indica um substituto, que demite Pujol. Os outros comandantes, da Marinha e Aeronáutica, se demitem em solidariedade.
Além dessa intenção, não tendo sido possível impedir a instalação da CPI da Covid, era necessário impedir que fossem convocados os diretamente responsáveis pela autorização a um general da ativa e outros militares também nessa situação assumirem um cargos no  Ministério da Saúde.

Todo esse imbróglio é vendido imprensa como uma posição antigolpista das Forças Armadas.
Pura figuração, era essa a idéia mesmo, fortalecer a figura do Defensor.
O reforço deveria acontecer na segunda dta marcante no imaginário popular: 7 de setembro.

Após algum período de trégua, até porque as próprias instituições começaram a temer as nuvens carregadas no horizonte, e aí a atuação firme do Min. Alexandre de Morais foi importante, novamente o presidente começa a escalar seus ataques institucionais e pessoais, mobilizando sua claque e sinalizando com um golpe em 7 de setembro, data da libertação nacional.
Dessa vez os ataques foram mais fortes com incentivos a mobilizações populares nas principais capitais e com o viés de radicalização crescente. Em Brasília surgem os acampamentos de militantes.
O presidente participa diretamente em dois comícios simbólicos, na Esplanada e na Paulista. Em ambos prega explicitamente o golpe, com o ápice na Paulista em que declara que não mais acolherá as decisões do Supremo e nem do ministro responsável pelos inquéritos das atividades antidemocráticas.
O clima se acirra, os presidentes dos outros poderes repelem os atos, o Alto Comando determina às PM que não o endossem e não mobilizam as tropas de apoio.
O golpe se frustra.

Claro, tudo programado, o presidente se humilha, pede desculpas e busca apoio no Centrão, que já estava cooptado e negociado por um general (que foi ainda na ativa para o governo), também colega do presidente.

Novamente é vendido à imprensa como uma demonstração e legalismo das Forças Armadas, quando de fato elas montaram o cenário para encenar a peça.
Tanto é que continuam participando ativamente do governo, com mais de seis mil militares nos mais diversos postos do governo, desde os mais altos, como ministérios, presidências de Itaupú, Petrobrás, Correios etc, até os de escalões mais baixos, DAS 3 e 4.

Prepara-se o figurino do Defensor para 2022.

continua em http://fregablog.blogspot.com/2022/01/2022-batalha-final.html