Ovo da Serpente Golpista
O viés golpista de nossas Forças Armadas difere em muito do golpismo
padrão latino-americano.
Nosso golpismo não tem origem fundamentalmente
caudilhista, como o da América espanhola. Nosso golpismo é elaborado, metido a
intelectual, positivista, cheio de pudores, pretextos e trololós.
Nosso golpismo é supremacista, classista, elitista.
As ideias de Comte encontraram terreno fértil na Guerra do Paraguai sob comando
de Caxias, sem dúvida um militar estrategista, sucessor do caudilho Mitre.
Quando abandonou o teatro de operações, ainda que sem autorização do governo, a
oficialidade aguerrida e, em boa parte, intelectualizada e já contaminada com
idéias positivistas, ensaiou uma rebelião, aplacada pela ação pronta de Rio
Branco e, posteriormente, com a indicação do Conde d'Eu para o comando do final
da operação.
Em seu retorno para a Corte, a partir de 1870, sentiram-se desprestigiados - o nosso
Ministro da Defesa atual também, olha a coincidência – pois perderam o
protagonismo que tinham nos combates e voltaram a ser cidadãos comuns.
Isso, associado à crise econômica derivada dos custos da guerra, fermentou um
desprezo pela democracia praticada pelo Imperador em seu regime parlamentarista
de gabinetes e uma adesão às correntes republicanas. A doutrinação positivista
e republicana na Praia Vermelha, coincidindo com o desaparecimento da primeira
geração de militares, nos quais pode-se destacar os sobreviventes à guerra como
Osório e o próprio Caxias, levou os militares, oficiais subalternos ou
intermediários na guerra, agora já nos altos postos, a se sentirem em condição
de enfrentar os governos.
Sentiam-se injustiçados e desprestigiados
por serem subordinados a políticos, a quem desprezavam e se sentiam superiores,
pois estavam em cadeiras de veludo enquanto os militares morriam nos charcos e
matas paraguaias.
Olha mais uma coincidência, se sentiam superiores.
O golpe republicano foi só
o coroamento do ovo da serpente posto e chocado a partir de 1870. Há mais de
150 anos, gerações sucessivas de serpentes nos infelicitam pela cultura
supremacista, com traços do positivismo político, mas sem os conceitos positivistas
de parcimônia no uso dos recursos públicos.
Pegaram só a pior parte.
Uma mudança é necessária.
Ou muda a formação dos militares num processo profundo de
revisionismo cultural, fazendo-lhes entender sua função de servidores públicos
com função específica, porém subordinados à sociedade civil, não tutores dela, ou acabe-se com o
Brasil, por inviável.
Cada nação que crie seu próprio Estado a seu gosto e jeito.
Infelizmente, o gigante adormeceu à iniquidade vaidosa de seus filhos.
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