2022 A Batalha Final
Mitos, Ameaças e Instabilidades
Referia-se o TSE e à declaração do futuro presidente da
Corte que a internet é sim um meio de
comunicação e, como tal, a propagação de notícias ou acusações falsas com
objetivo eleitoral poderá levar à cassação do registro do ofensor.
O Ministro está correto, mas tortos estão os tempos que vivemos. Mais do que
força bruta, é necessário o exercício da inteligência.
Levar a disputa para
força, à idiotice, à imbecilidade, ao surrealismo, ao non sense é lutar
no campo que Bolsonaro domina, é onde se sente à vontade, onde se fortalece.
A Bolsonaro pouco importam as leis, sempre foi um insubordinado em causa
própria, teve um comportamento vil sempre que lhe interessava. Pouco importa a
Bolsonaro o próprio Brasil, comporta-se como um marginal baixo nível de visão
curta, nenhum altruísmo de pensamento se espere de gente assim. Posiciona-se
como chefete de milícias, um líder arruaceiro de Mad Max, quanto maior a zona,
mais à vontade fica.
Bolsonaro é somente a face política emprestada a um movimento reacionário que
imaginávamos enfraquecido. Não estava, como se vê. A cada três gerações, e isso
é uma constante, as penúrias enfrentadas pela quarta anterior se desvanecem. O
ambiente repressor e discriminador pré-segunda guerra mundial parece distante
demais. Em forma e conteúdo. Um erro de avaliação, estamos na quarta geração e o esquecimento propicia o renascer, ainda que por uma minoria. Os movimentos da
sociedade são pendulares e, não havendo uma força estranha incidindo, tendem à
atenuação em busca do equilíbrio. Mas trata-se de fenômeno mundial.
“Diante de
uma larga frente de batalha, procure o ponto mais fraco e, ali, ataque com a
sua maior força, o ensinamento de Sun Tzu.
A larga frente de batalha parece evidente, qual seria o ponto mais fraco a ser
atacado?
Alguns mitos precisam ser reconsiderados. O primeiro deles é que a maioria faz a força, uma falácia. O que faz a força é a decisão, a obstinação, o poder de constrangimento, a capacidade de convencimento. A minoria qualificada tem mais poder que a maioria.
A minoria qualificada proclamou a república, fez a revolução de 30, deu o golpe
em 64 e em 2016. Não estou nivelando, cada um adequado a seu momento histórico,
o mérito é o mesmo, a forma não.
É essa minoria qualificada, em torno de 30% dos eleitores medidos pelas mais
diversas pesquisas, é a que está a ameaçar explicitamente com novo golpe. Não vamos fingir, os militares, as forças de
segurança interna, o capital local, nele incluindo o agronegócio, as forças
políticas fisiológicas, algumas corporações de ofício, todas essas foças compõem
o conjunto antidemocrático. São minoria? São, mas uma minoria qualificada,
decidido, capaz de enfrentamentos, aguerrida.
O segundo mito que precisa ser revisto é que Bolsonaro
governa. Absolutamente não. Principalmente porque Bolsonaro é incapaz de
governar, faltam-lhe qualidades intelectuais mínimas necessárias. Então como
está lá? Ora, exatamente por ser uma figura tosca, despreparada, sem escrúpulos
para fazer com convicção o discurso mais imoral que se lhe determine. Um
fantoche útil e que, por uma ação corporativa, esteve no Congresso como figura
inexpressiva e histriônica por vinte e oito anos.
Bolsonaro é tosco, despreparado, limitado intelectualmente, delinquente
moralmente, mas esperto. Sabe o que é melhor para si, e isso busca com a
competência dos sobreviventes. Não nutre fidelidades, sentimentos e nem compromissos.
Um psicopata da política.
Exatamente por isso o instrumento perfeito para o grupo intelectualmente
superior, com doutrina definida e com o poder das armas, colocar em prática
suas teses, suas táticas, seus propósitos, seus programas.
Dentre essas teses a democracia é um estorvo. E aí em ressonância com a geração
que esqueceu o fascismo das primeiras décadas do século XX.
Essa minoria é mais forte que a maioria, isso não pode ser
ignorado, fazer de conta que não existe.
“Se você conhece o
inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se
você se conhece, mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá
também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá
todas as batalhas”. Conhecer o inimigo significa a avaliação mais
próxima possível de sua força e tática.
Táticas e Estratégias
De forma
geral há pouco entendimento sobre essa matéria.
Estratégias são os caminhos planejados a serem percorridos para conquista de um
objetivo
Táticas são os passos e manobras necessárias para a execução da estratégia.
O macro-objetivo é a conquista do poder político para implantação de uma agenda
nacional consistente com suas doutrinas ideológicas.
A estratégia é minar e inibir a ação da maioria.
A tática se desdobra nos campos psicossocial (desânimo, desconfiança, vicissitude,
desesperança mediante a geração de notícias de mídia de massa), político (ocupação de funções
intermediárias e decisórias na máquina pública, cooptação de segmentos
políticos fisiológicos), econômico (implantação da agenda neoliberal vista como
a consolidação do capitalismo), militar (fortalecimento e distinção
supremacista dentro dos estratos sociais, incluindo remunerações e planos
assistenciais, e científico-tecnológico (revisão do modelos de universidades
públicas e concentração nos segmentos agrícolas e bélicos).
A
tática que essa minoria adotou envolve
ações concretas e diversionárias, dissimulações e ações psicológicas. O planejamento,
cronograma, intensidade, alvo e execução desse conjunto é encabeçado pelos
Altos Comandos das Forças Armadas.
Sua meta a ser atingida no período envolve a fragilização das instituições de
forma a que a ocupação do poder político se faça sem reações da maioria e
revestida de uma aparência de maior normalidade e preservação das próprias
instituições.
O primeiro ato concreto for a geração de uma onda de contra (contra qualquer
coisa) em 2013, seguida da desmoralização da única força política capaz de
atrapalhar os planos. Os movimentos de 2013, o golpe parlamentar de 2016, a
demolição da imagem e prisão de Lula na operação midiática-judicial da
LavaJato, a ocupação de membros do comando do golpe no Judiciário (general
assessor no STF, General no Ministério da Defesa, General ameaçando STF pelo
Twitter, cooptação de membros do judiciário, implantação de pauta econômica
neoliberal, destruição de direitos consolidados, tudo isso articulado (a facada
também?) para que o poder político fosse conquistado pelas urnas.
Marcaram um gol, ganharam uma batalha. A maioria fez o jogo da minoria. Foram
competentes. Colocaram seu fantoche no Palácio do Planalto.
Atingida a
meta, para 2018, o novo marco a ser alcançado é a manutenção em 2022.
Nesse ponto chama atenção o fato de Bolsonaro já falar em reeleição a partir do
primeiro dia de seu mandato. Estão lembrados disso? E cada um que supostamente
fosse disputar a função, virava inimigo.
Era necessário colocar ações táticas desde o início e alguns ajustes passaram a
ser necessários.
O primeiro
deles foi a reação, também por uma minoria qualificada, de defesa de seu
próprio poder. Ainda em maio de 2019, menos de cinco meses da posse do governo
dos marechais, os ataques às instituições foram de tal monta que o Supremo
Tribunal Federal sentiu-se ameaçado de
ser atropelado. O presidente, na época Toffoli e que tinha sido aliado na
tomada do poder, rebelou-se e abriu um inquérito de ofício para apurar os
ataques ao Tribunal.
Foi o primeiro sinal de que não seria tão simples atropelar a maioria e forçou
uma revisão da tática, a busca de novos caminhos. A par disso, a operação VazaJato tornou
pública toda a armação político-judicial e, sentindo-se o Tribunal como a
próxima vítima, revogou a prisão do ex-presidente Lula, numa franca ameaça aos
planos originais. Posteriormente anulou todos os atos antijurídicos praticados
pelo então juiz Moro, que virou Ministro da Justiça e defenestrado quando o
Alto Comando percebeu que estava correndo em raia própria na disputa do poder.
Foram percalços nas ações táticas. De imediato, foi feita uma aposta na
reeleição de Trump – raramente um presidente não é reeleito – com um
alinhamento automático do Brasil aos interesses estadunidenses. Buscaram
proteger o flanco externo.
A pandemia ofereceu nova oportunidade de protagonismo e consolidação para 2022.
Com informações erradas – de fato o que nossos marechais têm de competência
golpista lhes falta espírito crítico e visão científica – apostaram que o surto
que assustava o mundo seria rapidamente neutralizado pela própria imunização
natural. Foram ágeis em providenciar um placebo factoide que mostrasse uma
diligência do governo no combate ao surto e colhesse os louros ao atribuir a
extinção do surto (o que acreditavam que ocorreria naturalmente, independente
de qualquer providência) a pronta e cometente ação governamental.
Dois médicos não toparam participar da farsa. Arrumaram um general seria
duplamente conveniente, o surto seria neutralizado e por um general. Era o que
precisavam para consolidar uma posição superior para 2022.
Só que a tática Dick Vigarista não deu certo. O surto, ao contrário das
informações que tinham, agravou-se, ocorreu um morticínio impensável,
comprometeu de forma indelével a imagem de capacidade gerencial e de formulação
de políticas pelos militares. Além de lhes envolver em atos de corrupção e má
gestão.
Foi o início da decadência do plano B, pós soltura de Lula.
O Plano C passou a envolver um jogo de tabelinha. Bolsonaro, o insano, os
militares, salvadores do insano. Única força capaz de conter-lhe.
Ocorre que a essa altura seu prestígio já estava tão abalado que nem esse
discurso, ainda que repercutido com vigor em alguns veículos amigos, padeceu por
falta de credibilidade.
A imagem das Forças Armadas grudou, colou de maneira irreversível à de
Bolsonaro. A rejeição de um é a de outro.
Como fazer a maioria novamente adotar o jogo da minoria?
Num primeiro momento, desfalcando a maioria. O orçamento secreto nas mãos do
Centrão, com R$ 16 bi, comprou tempo para acomodações e correções de rumo.
2022 – A Batalha Final
Como o
papel de mocinho contra o bandido não mereceu credibilidade, a maioria vê igual
valor na tampa e no balaio, tudo se encaminha para uma decisão da maioria
contra os interesses da minoria qualificada. As ações de dissimulação não
enganaram ninguém. E a grana do orçamento secreto começa a ser destampada e o
fedor se espalha por todo canto.
A essa altura,
aparentemente só jogo sujo pode salvar a estratégia. Caso contrário, nos moldes
democráticos, a maioria decidirá em favor da maioria e o governo dos marechais
se encerra melancolicamente.
Também de Sun Tzu é “Não é preciso ter olhos abertos para ver o sol, nem
é preciso ter ouvidos afiados para ouvir o trovão. Pra ser vitorioso você
precisa ver o que não está visível.”.
Na mesa há alguns elementos.
1. Uma polarização entre a maioria e a minoria qualificada, representadas respectivamente
por Lula e Bolsonaro.
Se mais próximo da eleição Lula for retirado do pleito (acidente, atentado, mal
súbito, qualquer que seja o motivo) dificilmente alguém ocupará seu espaço e a
minoria qualificada fará a maioria.
2. Se houver alguma conturbação social - só no governo atual
mais de um milhão de licenças de armamento foram concedidas, 90% para componentes
da minoria qualificada apoiadora do atual governo – pode ensejar a convocação de
uma GLO. Por quem? Por Bolsonaro, e assim haver um motivo sustentável aos olhos
do mundo para adiamento das eleições.
Aparentemente a tática preferencial é a segunda, face à
comoção mundial que a primeira causaria. Investigações internacionais poderiam
comprometer os marechais e inviabilizar atingir o objetivo.
Os marechais já determinaram que o fantoche recrudesça os
ataques ao TSE e, de quebra, ao STF. A recente decisão do Min Nunes Marques, um
aparente aliado subalterno dos marechais, estaria nesse contexto. Que amplie as
ameaças de guerra civil, de matança, de luta e sangue, para intimidar a maioria,
sempre menos belicosa.
Já Bolsonaro lança um desafio ao TSE. Sinaliza que utilizará os meios de comunicação
eletrônicos para seus ataques infundados ao sistema eleitoral em particular e
ao Judiciário como um todo. Desafio de colegial, de risco no chão, de cospe aqui.
O ímpeto natural é contraditar, se opor, mostrar força,
dizer quem manda, quem a Constituição declara ter a última palavra.
Mas a última palavra, em tempos bélicos, pode ser realmente a última dita.
Não se joga xadrez com luva de box. Neste momento, contraditar, impor os
limites, punir (como se deveria) esse agente provocador simplesmente pode ser a
senha da convulsão desejada pelos marechais.
Por que penso assim?
Também de Sun Tzu é “ Não é preciso ter olhos abertos para ver o sol, nem é
preciso ter ouvidos afiados para ouvir o trovão. Pra ser vitorioso você precisa
ver o que não está visível.”.
A inteligência recomenda que se deixe sem contraditar, que
se fique atento para mandar retirar de imediato qualquer publicação mentirosa,
terrorista ou ameaçadora às instituições democráticas e se aguarde que a minoria,
que tem mais força, porém menos voto, seja simplesmente retirada do poder pelas
urnas. Deixem que se enforque com a própria corda.
Sem dúvida, tentarão questionar o resultado, mas o mundo estará de olho.
Qualquer ação nesse sentido não prosperará.
Volto a Sun Tzu, a eleição é o ponto mais fraco dos marechais.
Ainda assim, independente da tática que
adotarem, Lula, todo o cuidado é pouco. Que não se aposte na inteligência
desses brucutus, podem querer adotar em algum momento a primeira alternativa,
ainda que essencialmente burra.
3 Comments:
Frega, sua síntese ou prognóstico do que pode acontecer nesse embate de forças progressistas ( maioria do povo) e reacionárias (todas bolsonaristas e armadas) me parece de uma uma pertinência esclarecedora.Vou compartilhar.
Análise lúcida do processo que nos aguarda até 2023. É preciso inteligência, determinação, mobilização nos momentos decisivos e capacidade de articulação com segmentos da sociedade que tenham um compromisso com a manutenção do Estado de Direito e a soberania nacional.
Obrigado. Abr
Postar um comentário
<< Home